50 anos do golpe: A herança maldita 50 anos do golpe: A herança maldita

Diversos, Notícias | 31 de março de 2014

Em 2014, o dia 31 de março, para uns, ou 1º de abril (Dia Nacional da Mentira), para outros, marca os 50 anos do golpe civil e militar de direita no Brasil. Este golpe derrubou pela força, o governo eleito democraticamente, comandado pelo então presidente, João Goulart. Na medida em que distanciamos dos acontecimentos, novos fatos e novas interpretações surgem sobre o que aconteceu no ano de 1964. Hoje, temos uma grande variedade de informações que vão mostrando os reais motivos que levaram os militares, partidos e imprensa, com apoio dos EUA, a derrubarem o presidente da República.

Vamos levantar uma pequena discussão sobre o golpe de 1964 pelo viés político, deixando de lado o econômico e o social. É importante salientar que a retirada de João Goulart do poder não aconteceu de repente ou de maneira inesperada. O grupo que comandou o golpe, já havia tentado tomar o poder em 1954, no governo Vargas. A tática é sempre a mesma: denúncias de corrupção, ataques sistemáticos ao governo, com a imprensa destacando de maneira escandalosa a inflação e gritando que o governo “é incapaz de governar o país”. Estavam criando as condições para deflagrar o golpe de Estado. Os grandes latifundiários; empresários; a burguesia urbana e a mídia, não aceitavam perder um pouco de suas regalias e, por isso, armavam a derrubada de Vargas do poder.
O suicídio de Getúlio, em agosto 1954, inviabilizou os planos da direita. O povo saiu às ruas e uma grande comoção tomou conta do país. A direita recolheu suas bandeiras, mas ficou na “moita” aguardando o melhor momento para tentar tomar o poder pela força.

Depois de Vargas, o presidente eleito, que assumiu o governo, foi Juscelino Kubitschek. Sua marca foi a construção de Brasília e o início das grandes obras pelo país. Seu lema era crescer 50 anos em 5. Entregou o cargo ao próximo presidente eleito, Jânio Quadros. Ele renunciou pouco mais de sete meses após a posse. Seu vice era Jango, seguidor de Vargas.
Os militares e a direita civil não aceitavam Jango na Presidência e já há algum tempo, vinham preparando o golpe. A implantação do sistema parlamentarista, que tira poderes do presidente, acabou “tirando o gás” dos golpistas. Essa foi a condição que os militares impuseram para que Jango assumisse o cargo de presidente.O parlamentarismo durou de 7 de setembro de 1961 a 6 de janeiro de 1963. Durante esse tempo, passaram pelo cargo três primeiro ministros, demonstrando a instabilidade política que vivia o Brasil.

Foi convocado um plebiscito em 6 de janeiro de 1963. O povo majoritariamente votou pelo fim do Parlamentarismo. Com isso, voltamos ao Presidencialismo e Jango assumiu todos os poderes do cargo. Os ataques ao governo aumentaram. A direita, a imprensa e os partidos como a UDN, recorriam aos militares para dar o golpe. Depois de 1954 e 1961, esta era a terceira chance que tinham de tomar o poder pela força. É bom frisar que nem Getúlio Vargas nem João Goulart poderiam ser chamados de esquerda. Eles propunham uma “modernização do capitalismo” brasileiro, integrando a massa camponesa ao consumo, por meio da reforma agrária e tendo uma política externa independente dos Estados Unidos e da União Soviética, além de apoiar os sindicatos.

Com essas e outras propostas, os diferentes grupos e partidos de esquerda; sindicatos e a UNE, apoiavam Jango e pressionavam para avançar mais nas propostas e execução das reformas. As oligarquias brasileiras que controlavam o Estado desde a implantação da República no final do século XIX, não admitiam nada que colocasse em risco alguns de seus privilégios. O Brasil ainda era um país com uma grande massa de trabalhadores no campo, espoliados por essas oligarquias e que temiam a reforma agrária. A mídia fez o de sempre: acusou o governo Jango de querer impor uma “República Sindicalista” aliado com os comunistas. Diariamente, denunciava que o governo estava tomado pela corrupção.

Uma grande parte da Igreja Católica saiu pregando contra os comunistas ateus. A direita com a imprensa foram criando um clima de desordem e caos. Propagavam que Jango queria dar o golpe, tornando o Brasil uma “grande Cuba”, na órbita da antiga União Soviética, comandada por sindicalistas. Na época, o mundo estava polarizado entre a área de influência americana – capitalista, que incluía toda a América Latina, e a comunista, sob o comando da extinta União Soviética. Os EUA não aceitavam a perda de Cuba para a área de influência comunista e se empenhavam para que outros países não seguissem o exemplo. Portanto, não aceitavam um governo independente no Brasil.

O grande medo da direita era as “Reformas de Base” , que Jango propunha liderar. O comício gigante na Central do Brasil no dia 13 de março de 1963, mostrou um presidente disposto a enfrentar a oposição e implementar as “Reformas de Base”, com o apoio popular, e também de partidos e grupos de esquerda. A direita com seus representantes nas forças armadas; a mídia; a oligarquia agrária e a burguesia, entraram em pânico. Com o apoio da cúpula da Igreja Católica, convocaram as chamadas “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, fazendo grandes passeatas, com terços na mão, principalmente em São Paulo.

Poucos dias depois, o exército anunciava o golpe. Jango foi deposto e exilado no Uruguai. Os militares assumiram o poder, que só largaram, depois de muita pressão popular por meio dos grandes comícios exigindo diretas para presidente da República. Mas algumas lideranças de oposição fizeram um acordo com os chefes militares e, assim, Tancredo Neves foi eleito de maneira indireta presidente da República. Entretanto, morreu antes de tomar posse. Com isso, assumiu Sarney, tornando-se, efetivamente, o primeiro presidente civil depois de mais de 20 anos de ditadura.

REPRESSÃO, TERROR, TORTURA E MORTE

O regime instaurado a partir de 1964 tinha o apoio irrestrito dos meios de comunicação. Por isso, durante a ditadura, não foi preciso censurar a imprensa. Os poucos jornais ou rádios que apoiavam o governo Goulart foram fechados, ficando somente os que eram aliados dos militares. Instaurou-se um regime de terror. Todos os opositores foram perseguidos. Alguns conseguiram fugir para o exterior, mas um grande número foi preso; torturado; morto e desaparecido sem deixar vestígios. A ditadura corrompeu a política, indicando parlamentares “biônicos” que não precisavam de votos para ocupar o cargo. Não era permitido uma maioria crítica dentro do Congresso. Nas escolas, era proibido o debate e o envolvimento político. Os partidos foram dissolvidos e o regime criou a ARENA (governista) e o MDB (oposição). Mas, qualquer rebeldia do parlamentar de oposição era punida com a cassação. Foram os anos de chumbo para o Brasil. Algumas pessoas defendem a ditadura, alegando que nesse período não tinha corrupção nem violência. É pura ilusão. Como a imprensa apoiava o regime, ela não publicava nenhuma denúncia contra os desmandos da ditadura. A violência era publicada por jornais ditos populares, mas atingia basicamente os bairros pobres da periferia, que eram excluídos dos noticiários dos jornais da elite, das rádios e da TV.

Nesse período, o Brasil viu surgir empreiteiras que tocavam grandes obras, que segundo os ditadores, tornariam o Brasil uma potência. Empreiteiras sempre são fontes de corrupção, e no regime militar, elas construíram obras gigantescas que envolviam bilhões de dólares. Tudo foi feito sem uma denúncia envolvendo dinheiro público. Assim, construíram a hidrelétrica de Itaipu, as usinas atômicas de Angra, a ponte Rio-Niterói e a mais polêmica de todas: a rodovia Transamazônica, que ligava nada, a lugar nenhum. Foi na ditadura que empreiteiras como a Mendes Júnior cresceram e se tornaram poderosas. Prosperaram rapidamente, sem nenhum controle do dinheiro público investido nessas grandes obras. Por mais inocentes e crédulos que possamos ser, é quase impossível que essas empreiteiras não “mamassem” no dinheiro dos nossos impostos.

SAEM OS MILITARES, MAS A DIREITA CONTINUA

O fim da ditadura não significou a saída da burguesia fascista do poder. Ficou no comando do país de 1964 até 2002, quando Lula assumiu à Presidência. Em 2002, a direita fez de tudo para derrotar Lula, dizendo que era despreparado e iria levar o país ao abismo. Governou sob o bombardeio diário da imprensa. Ela perdeu. Nas eleições de 2006, usaram o caso “mensalão” para atacar o governo. O massacre era diário. Fernando Henrique Cardoso disse que iriam “sangrar” Lula devagarzinho até derrotá-lo na eleição presidencial. FHC perdeu. Na eleição de 2010, a mídia disse que Dilma era um poste, sem personalidade e sem condições de governar. A mídia perdeu. Em 2012, na eleição para prefeito, um grande espetáculo foi feito com o julgamento do “mensalão” para acabar com o PT. Eles perderam.

Este ano, a direita fará de tudo para voltar ao poder. Afinal, desde a Proclamação da República, ela não fica tantos anos fora do comando do país. Em todo século XX, a direita ficou fora da Presidência da República por períodos curtos e, nesses períodos, sempre armava um golpe para voltar ao poder. Sem condições de usar os militares para dar mais um golpe, a direita usa outras armas para tentar derrotar Dilma. Ressuscitou até a Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, que foi um fracasso, apesar do espaço que teve na mídia. Ataca a Petrobrás e faz um escândalo com a inflação, apesar de estar dentro da meta. Está à procura da chamada “bala de prata” para derrubar definitivamente a Dilma do poder. 2014 promete ser um ano “sangrento”. Mas mais uma vez, a direita vai perder.

A REAÇÃO DA CLASSE TRABALHADORA

A classe trabalhadora foi a grande perdedora na ditadura militar. Seus líderes foram presos, torturados e alguns mortos. Outros foram exilados. Os sindicatos sofreram intervenção e tiveram suas sedes destruídas. A sede da UNE no Rio foi incendiada. Foi imposto um grande arrocho salarial aos trabalhadores. Eles pagavam a conta do golpe. Não havia eleições para a direção de sindicatos, que eram comandados por interventores de confiança dos militares.

Mesmo muito golpeado, o movimento da classe trabalhadora foi ressurgindo e algumas greves começaram a ocorrer no regime militar, apesar da repressão. Até que com a anistia e mais tarde o movimento pelas “Diretas Já”, os militares deixaram o poder para os civis.

Sindipetro/MG