Pedro Parente, o grande cara de pau Pedro Parente, o grande cara de pau

Diversos, Notícias, Tribuna Livre | 29 de março de 2017

“Houve um certo endeusamento do pré-sal.”

“Existe uma parte de investimentos no pré-sal que traz resultados, mas a maior parte não.”

Pedro Parente, em evento da Revista Exame, em São Paulo
Companheiros e companheiras,

Os resultados alcançados pela Petrobrás em 2016 são consequências de um acertado projeto estratégico conduzido pela estatal a partir de 2003, tal política esteve ancorada nos investimentos em exploração e produção, principalmente nas áreas de engenharia, pesquisa e desenvolvimento, geologia, entre outras, culminando na descoberta do pré-sal em 2007.

É importante relembrarmos que em 2002 a Petrobrás valia cerca de R$ 54 bilhões, seu lucro líquido era de R$ 8,1 bilhões, seus investimentos eram de R$ 18,8 bilhões e a companhia tinha 46 mil empregados. Já em 2013 todos esses números saltam consideravelmente, o valor da empresa sobe para R$ 215 bilhões, seu lucro aumenta para R$ 23,5 bilhões, seu investimento cresce para 104,4 bilhões e o número de trabalhadores atinge a marca de 86 mil funcionários.

Mais ainda, em 2014, a Petrobrás investiu cerca de R$ 1,2 bilhão em P&D, respondendo por 82% de todo o investimento nacional em pesquisa, desenvolvimento e inovação. São esses investimentos que permitiram à Petrobras alcançar os resultados comemorados pela atual gestão. Se não houvesse a decisão de investir no pré-sal ele não existiria hoje e os ganhos de sua produção não poderiam ser computados, ajudando inclusive a complementar a produção declinante da bacia de Campos. Se não existisse o contrato de Cessão Onerosa o futuro da produção do médio prazo (até 2021) não estaria garantido.

A expansão da produção foi sustentada em grande medida, justamente, pelo crescimento do pré-sal. Em apenas um ano, a produção do pré-sal cresceu cerca de 50% saindo de 1,1 milhões de barris diários para 1,6, respondendo por mais de 45% da produção nacional. Além disso, os resultados operacionais melhoraram consideravelmente em função dos ganhos operacionais oferecidos, mais uma vez, pelo próprio pré-sal, que propiciou uma redução de 11% no custo da extração e uma diminuição de 27% no tempo de construção dos poços perfurados. Mais ainda, a produção do oléo mais leve propiciou um rendimento de 3% em derivados do petróleo como querosene de aviação, diesel e gasolina por meio da menor necessidade de importação de óleo leve do exterior – reduziu-se em oito percentuais. A melhora da geração de caixa da Petrobras, portanto, está diretamente relacionado à eficiência conquistada pelo pré-sal, mesmo num ano em que houve o declínio da demanda por combustíveis.

Sem a visão estratégica de longo-prazo que marca a gestão da Petrobras desde 2003, que está na origem da descoberta do pré-sal, não teríamos redução nos custos de extração, melhora na eficiência e produtividade dos poços e uma menor necessidade de importação de petróleo.

As perspectivas são de que os ganhos do pré-sal se acumulem no futuro, desde que a Petrobras não diminua seus investimentos e continue ampliando e aperfeiçoando sua atuação em águas profundas. Lamentavelmente, e de maneira equivocada, a atual gestão insinua que o pré-sal é endeusado e traz poucos resultados, como fica claro nas frases acima mencionadas de Pedro Parente, tal argumento busca esconder a atual política de desinvestimento e de descapitalização da companhia e mais: omitir que a origem do pré- sal foi uma conquista da política de expansão dos investimentos que essa mesma gestão tenta demonizar!

Ao contrário do atual receituário, a Petrobrás não precisa vender ativos para reduzir seu nível de endividamento. Pelo contrário, na medida em que a empresa vende os ativos ela diminui sua capacidade de pagamento da própria dívida no médio-prazo e diminui sua capacidade produtiva futura, gerando prejuízo à geração futura de caixa, assumindo riscos empresariais desnecessários.

Alguns estudos têm demonstrado que sem vender um único ativo, a alavancagem da Petrobrás poderia cair de 4,5 para 3,1 em 2018 chegando até 2,5 em meados de 2021. Ademais, não necessariamente o pagamento antecipado de dívidas mais caras é o mais adequado. Há que se considerar os efeitos que a redução da dívida tem sobre o perfil de amortizações, assim como os impactos da redução dos investimentos correntes, em decorrência da antecipação de amortizações, sobre a produção futura. No entanto, como a empresa tem sinalizado uma forte redução dos investimentos, pode ocorrer prejuízos para a produção futura e limitar as conquistas obtidas neste ano.

Em resumo, os resultados atuais de 2016 refletem não um ano de gestão, mas uma política de longo prazo construída a partir de 2003. Não deve haver dúvidas de que o pré-sal é o grande responsável pelos ganhos operacionais da Petrobras, no entanto, a nova gestão da dívida pode colocar essas conquistas em risco. É fundamental que a gestão da dívida permita à empresa se estabilizar sem abrir mão de investimentos essenciais para o futuro.

Sob o pretexto de solucionar um problema de curto-prazo, o endividamento da empresa, a atual gestão afronta as possibilidades de construirmos, no médio e no longo-prazo um projeto de desenvolvimento industrial e tecnológico que tenha no seu centro a Petrobrás.

Saudações,

José Maria Rangel

Fonte: FUP