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Diversos, Notícias, Tribuna Livre | 2 de fevereiro de 2018

“Hoje a sorte do Brasil começou a melhorar”. Essa foi a frase que eu escutei em abril de 2016, logo após a seção presidida pelo Eduardo Cunha receber os 342 votos necessários para abertura do impeachment da Dilma por crime de responsabilidade. Reconheço que ouvi com descrédito, mas nessa altura do campeonato já estava evitando discussões acaloradas. Preferi que a história se encaminhasse de mostrar a verdade.
Nos 20 meses que se sucederam, a história foi sendo tecida. Eduardo Cunha foi preso, o que comprovou o que eu já sabia. As articulações políticas ilegais que levaram ao impeachment, inclusive a criação de um crime de responsabilidade inexistente no ordenamento jurídico nacional nada mais era que uma tentativa de escapar da cadeia. Não funcionou para ele. Mas colocou o País na mão de um vice decorativo. Eduardo Cunha elegeu um presidente, e jogou a vontade de 53 milhões de brasileiros no ralo. O que eu vi em seguida foi o “crime” sendo claramente legislado pelos mesmos deputados, afinal inventar um crime colocava o País numa insegurança jurídica sem precedentes.
Em seguida vi, nesses 20 meses o desemprego aumentando (significativamente), a fome batendo à porta de milhões, vi também dois senadores inocentados com prova, com Polícia Federal, com gravações legais no Jornal Nacional, com mala de dinheiro, com Supremo, com tudo, vi o avião de um juiz da suprema corte, que tinha uma lista com mais de 150 políticos envolvidos em um esquema de corrupção e estava prestes a divulgar para o País, cair inexplicavelmente no mar, matando todos os integrantes. E nunca vi a lista aparecer…
Vi o presidente do Cunha pagando bilhões de reais, isso mesmo, bilhões com o meu e o seu dinheiro para os mesmos 513 deputados arquivarem duas denúncias contra os crimes que ele cometeu, com cópia de cheque nominal a ele do setor de propina estampado em todos os jornais e mala de R$ 500 mil rastreada entregue ao seu assessor com imagens nos jornais da manhã, tarde e noite. Eu vi a mala. Vi sim, eu vi… Vi uma lei trabalhista ser reformulada, deixando a mercê dos patrões 100 milhões de brasileiros. Vi o trabalho escravo sendo legalizado no País, mesmo com protestos de órgãos como a Organização das Nações Unias (ONU).
Vi R$ 53 milhões, de origem inexplicada pegos pela Polícia Federal, em apartamento de ministro, caso também estampado em todos os jornais, todos. E era uma sala inteira cheia de dinheiro. E não “rolou” nada. Vi senador levando mala de R$ 2 milhões e mandando matar primo para não fazer delação sendo reconduzido cordialmente ao cargo. Vi a gasolina subir 30% em 115 aumentos consecutivos para pagar bancada ruralista, que tem o presidente do País como refém.
Vi o Dudu [Eduardo Cunha] lá na cadeia nomeando ministro da Justiça porque, afinal, foi ele que elegeu o presidente. Vi o déficit do orçamento bater recordes históricos, por dois anos consecutivos. Vi governo conspirando e acertando de pagar R$ 49 bilhões para deputados e senadores aprovarem uma reforma previdenciária que garante que você, eu, e todos os brasileiros morram sem se aposentar, mesmo eu pagando há 15 anos 11% do meu salário pelo meu direito de aposentar um dia. Mas isso não importa, afinal tem gente que pagou 11% do salário por 30 anos e vai morrer sem aposentar também… Vi tudo isso, na verdade não só vi, eu acompanhei. Em todos os jornais.
Mas o que me chamou mais a atenção não foi o contar da história, porque ela não me surpreendeu em nada, pelo contrário, isso tudo eu já esperava em abril de 2016. O que me chamou mais a atenção foi a frase que eu ouvi hoje: “Hoje a sorte do Brasil começou a melhorar”. A última vez que eu ouvi que a sorte do Brasil tinha começado a melhorar pela foi há 20 meses e hoje escutei essa frase de novo. Diante disso, eu não sei se eu torço pela gasolina chegar a R$ 20 o litro e, se você não puder pagar que venda o seu carro, e se não tiver ninguém para comprar que abra um negócio de exportação de carros usados de brasileiros para a África; ou se eu torço para uma caça às bruxas do Judiciário buscando o primogênito de todas as famílias e levando para a fogueira. O fato é que agora tô vendo Justiça condenando sem provas, a mesma Justiça que absolve com gravação, com mala de dinheiro rastreada, com cheque nominal do setor de propina, com tudo. Os mesmos. Cadê a escritura do triplex? Cadê, gente?. Dá mesmo para acreditar nesses caras? Ou será que todos são uma cambada de “Eduardos Cunhas” que julgam e condenam com ou sem crimes apenas porque estão tentando se livrar da cadeia ou, quem sabe, da ira das manchetes?
Mas, o Brasil nunca esteve tão certo: hoje a nossa sorte começou a melhorar!!!
Boa sorte.

André Zocrato – técnico de operação da Regap

**A coluna Voz da Base foi criada pelo Sindipetro/MG para receber reclamações, denúncias, sugestões e elogios da categoria petroleira de Minas Gerais relacionados à rotina de trabalho. As contribuições devem ser enviadas para o e-mail [email protected] ou passadas a um dos diretores do Sindicato.