EDITORIAL – Ataque à democracia EDITORIAL – Ataque à democracia

Opinião | 26 de fevereiro de 2018

Não é de hoje que o golpe de 2016 se avizinha com o que houve no Brasil em 1964. A última cartada (ou melhor, a última até o fechamento deste jornal) dos comandantes do golpe é o decreto de intervenção militar no Rio de Janeiro.

Temer autorizou que as ruas da Cidade Maravilhosa sejam tomadas pelo Exército, a fim de restituir a segurança à população carioca. No entanto, como bem sabemos, os militares não são treinados para garantir paz e segurança, mas para proteger o País em uma possível guerra.

São treinados para matar o inimigo. E, no Brasil, o que as forças de segurança comumente consideram como inimigo é a população pobre, negra e
moradora de favela.

A pretexto de se combater o tráfico de drogas no Rio, já presenciamos o Exército invadindo comunidadescariocas para expulsar criminosos e apreender
armas. No entanto, o que o Exército ou o governo faz quando há políticos poderosos no comando do narcotráfico? Ou quando helicópteros carregados de drogas são encontrados?

Não bastasse o Exército invadir o Rio de Janeiro, também se fala em mandados de busca e apreensão coletivos, sem endereço fixo, de modo que policiais e soldados tenham carta branca para invadir bairros inteiros, expulsar famílias e revistar suas vidas. Além disso, o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, já deu seu recado pela imprensa: os militares precisam de “garantia para agir sem o risco de surgir uma nova Comissão da Verdade” – em alusão às apurações do governo Dilma sobre graves violações de direitos humanos cometidas durante a ditadura militar.

Fica claro que o Governo Temer, diante do fracasso da Reforma da Previdência e de sua ampla rejeição popular, decidiu apelar para uma agenda autoritária, flertando com tempos sombrios da história brasileira. Mesmo vitoriosos na luta em defesa da nossa aposentadoria, a classe trabalhadora brasileira certamente não terá o direito de sair das ruas. O momento será, novamente, de lutar pela pelo nosso maior patrimônio: a democracia.

Sindipetro/MG