EDITORIAL: Estão tentando nos calar, mas não vão conseguir EDITORIAL: Estão tentando nos calar, mas não vão conseguir

Opinião | 23 de março de 2018

Ao que tudo indica, o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL/RJ), no dia 14 de março de 2018, foi um crime político – seja ele cometido pelo poder público ou pelo poder paralelo. Talvez, um “cala boca”! Afinal, em tempos de golpe, a censura e a violência são sempre armas utilizadas pelo poder dominante para, justamente, se manter no controle.

No entanto, a morte de Marielle – mulher, negra, mãe, homossexual, moradora do conjunto de favelas da Maré, a quinta mais votada na eleição para a Câmara do Rio e com uma trajetória de luta em defesa dos direitos humanos – não pode nos calar. Ela deve ecoar. Seu assassinato deve servir para fortalecer os princípios que ela defendia.

A tese de que a vereadora foi executada pelas milícias já foi cogitada pela Polícia Civil. Mas, Marielle não incomodava somente a polícia – com suas denúncias de abusos de poder, especialmente contra a população pobre, negra e moradora de favela no Rio. A jovem liderança, defensora de novas formas de fazer política, também denunciava o golpe e suas consequências, como a intervenção militar no Rio de Janeiro.

Estudiosa das UPP’s – sua tese de mestrado em Administração Pública se intitulava “UPP – A Redução da Favela a Três Letras” – Marielle conhecia de perto a realidade da favela e o “legado” de operações realizadas pela polícia e Exército nas comunidades. Como vereadora, era relatora de uma comissão criada para monitorar os trabalhos da atual intervenção no Rio e sempre abriu as portas de seu mandato para dar apoio às famílias de civis e policiais assassinados.

Entretanto, por mais que a brutal execução de Marielle ilustre tão claramente o colapso social em que vivemos no País, há uma clara tentativa de desvirtuar sua reputação e suas bandeiras políticas. Setores de ultradireita infestaram as redes sociais com boatos que buscavam associar a vereadora ao tráfico, assim como veículos da grande mídia vem se utilizando da tragédia para defender e legitimar o aumento da repressão nas periferias brasileiras.

Não podemos permitir que a morte de Marielle sirva àquelas ideias e forças que ela sempre combateu. Por tudo isso, é preciso sempre gritar MARIELLE PRESENTE e ecoar sua voz contra as desigualdades e os preconceitos que atingem, principalmente, as mulheres, a população negra e pobre, homossexuais e favelados.