Editorial: Nossa greve será política Editorial: Nossa greve será política

Opinião | 11 de maio de 2018

Após longos debates em assembleias com trabalhadores de bases petroleiras de Betim, Ibirité, Juiz de Fora e Montes Claros, ficou clara a revolta da categoria frente aos anúncios de privatização da Petrobrás. A aprovação retumbante de uma greve nacional contra os desmandos da gestão Temer/Parente, acompanhada pelas demais bases da FUP, mostra a inegável disposição de trabalhadoras e trabalhadores para lutar pelos seus empregos e direitos.

Apesar da ânsia da categoria por agir e responder a esses ataques, não foram poucas as situações em que a questão do método foi trazida ao debate. Afinal, temos que lutar – mas, como? Como deverá ser nossa greve? Qual deve ser o mote da greve? Nossa greve será política?
Diante da apreensão quanto à eficácia da nossa mobilização – seja quanto à capacidade de unificação da categoria, seja quanto ao diálogo com a sociedade – muitos foram enfáticos: “não podemos misturar greve com política!”. Mas, será que isso é possível?

A partir do momento que um trabalhador resolve se unir a outros para lutar por uma bandeira coletiva, esse se apresenta ao mundo como um sujeito político. Mesmo quando as mobilizações dos trabalhadores, ao longo da história, estiveram centradas em pautas econômicas e corporativas, essas ações coletivas contribuíram para expor um contexto de desigualdade, assim como questionar a legitimidade do status quo. Como diria o velho e bicentenário Marx: é a luta de classes, estúpido!

Assim fizeram os metalúrgicos de Contagem (1968) e do ABC paulista (1978/79), que realizaram greves históricas por reajuste salarial em plena ditadura, o que expôs uma política de arrocho salarial do governo militar, assim como contribuiu para um processo de declínio do regime e de reabertura democrática. Assim também fizeram diversas categorias de trabalhadores de estatais (inclusive petroleiros) e servidores públicos, em 1983, em uma greve conjunta pela estabilidade. Com seus empregos sob risco diante dos acordos com o FMI, o movimento denunciava a subserviência do governo ao capital internacional.

Assim fizemos nós, em 1995: impulsionados pela quebra de um acordo coletivo pelo governo FHC, enfrentamos o poder judiciário, a grande mídia e até tanques do exército por uma greve que já extrapolava nossas pautas corporativas. Em 1995, assim como em 2013 e 2015, a greve dos petroleiros impulsionou um debate político nacional sobre a importância de uma Petrobrás estatal, a serviço do povo brasileiro e de um projeto soberano para o nosso país.

É evidente que, como em outros momentos da história, o mote da nossa mobilização deve estar centrado naquilo que nos unifica como categoria: a luta contra a privatização da Petrobrás. Mas nossos movimentos não são nada mais que respostas a um contexto histórico, social e político específico. Num bom português: nossa greve será, nesse momento, um ato de resistência ao golpe.

Portanto, queiramos ou não, nossa greve será política. Incomodaremos setores poderosos, que a tratarão como política, assim como receberemos a solidariedade de outros, justamente por também a tratarem como política. Se conquistar o que queremos passa por mudar esse país, é bom que nossa luta siga sempre política!