Disputa pelo petróleo motiva golpe no Brasil, afirmam estudiosos Disputa pelo petróleo motiva golpe no Brasil, afirmam estudiosos

Diversos, Notícias, Tribuna Livre | 4 de agosto de 2018

golpe
A disputa mundial pelo petróleo, especialmente após a descoberta do pré-sal em 2007, foi apontada na VII Plenária Nacional da Federação Única dos Petroleiros (PlenaFUP) como um dos principais motivos do golpe político de 2016 no Brasil. Esse foi o tema do debate “Geopolítica do petróleo e erros de estratégia da Petrobrás”, realizado na manhã deste sábado (4).

Segundo o pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis Zé Eduardo Dutra (Ineep), Rodrigo Leão, diversos fatores relacionam o golpe ao pré-sal. “Houve um cronograma do golpe que começa com o roubo de um container em 2008 com alguns HDs que tinham dados estratégicos do pré-sal, que inicialmente foi tratado como espionagem industrial mas que depois a investigação parou. Em 2010, no auge da eleição, vaza aquele documento do Wikileaks que mostra o Serra (José Serra) com a diretora da Chevron discutindo o que seria feito do pré-sal. Em 2013, tivemos reuniões de empresas chinesas com o Alckimin discutindo o que o PSDB faria com o pré-sal. Então, está muito claro que havia já um conjunto de interesses e grupos de pressão em torno do pré-sal”.

A partir do golpe, inúmeras ações do governo Michel Temer reforçam ainda mais os interesses golpistas em torno do pré-sal. Entre eles a aceleração dos leilões – em dois anos foram quatro leilões de petróleo do pré-sal; e a retirada da Petrobrás da posição de operadora única do pré-sal no Brasil.

De acordo com o professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC), Igor Fuser, o golpe jogou fora todo um projeto de governo voltato ao desenvolvimento do País e à soberania nacional. “O golpe passa pelo desmonte da Petrobrás, pela entrega das reservas do pré-sal, pelo fim das políticas de conteúdo local e acaba com todo aquele sonho de utilizar a exploração das reservas do pré-sal também para incentivar a indústria nacional, desenvolver nossa tecnologia e gerar empregos”.

Ele acrescentou ainda que o golpe envolve também grande interesse dos Estados Unidos e não somente no petróleo. Por isso, tem um grande impacto na geopolítica internacional. “O golpe tira o Brasil da posição em que estava, através da política externa realizada pelo ministro Celso Amorim, quando o País passou a exercer uma posição independente e soberana no cenário internacional deixando de ser um capacho dos Estados Unidos”.

Resistência petroleira

Já o coordenador licenciado da FUP e pré-candidato a deputado federal pelo PT do Rio de Janeiro, José Maria Rangel, relembrou os embates realizados pela categoria petroleira ao longo da história e, em especial, no contexto do golpe.

Entre eles, Zé Maria citou a resistência dos petroleiros ao projeto de lei 131, do senador José Serra (PSDB) que retirava totalmente a Petrobrás da operação única do pré-sal. “Foi a nossa resistência que permitiu que a Petrobrás tivesse, pelo menos, a preferência nos campos”. Também lembrou da criação do Ineep que possibilitou que a categoria negocie com a Petrobrás e responda ao discurso falacioso da imprensa em pé de igualdade.

O ex-dirigente da FUP também citou a ampliação da luta em defesa da Petrobrás da categoria para o povo brasileiro. “Nosso jaleco laranja se transformou em um símbolo da resistência dos trabalhadores e trabalhadoras da Petrobrás e extrapolou os muros da nossa empresa. Hoje, todos querem um jaleco laranja porque as pessoas começam a se sentir parte da disputa em defesa da Petrobrás”.

Erros estratégicos da Petrobrás a partir do golpe

Um dos principais erros estratégicos da Petrobrás apontados pelos especialistas nesse contexto de golpe é o fatiamento e venda de parte da empresa – política adotada desde que Temer assumiu o governo e Pedro Parente foi nomeado presidente da estatal. Nos dois anos de golpe, 14 ativos da empresa foram vendidos no País e no exterior.

Também a redução dos investimentos foi apontado como um erro porque a Petrobrás mudou toda sua política em razão de uma crise que, segundo o especialista Rodrigo Leão, não levaria a empresa à falência pois parte dela é conjuntural. Tanto é assim que, na última sexta-feira (3), a Petrobrás anunciou lucro líquido de R$ 10 bilhões no segundo trimestre de 2018. “E nesse trimestre não teve R$ 1 de venda de ativos, todo o lucro veio da exploração e do refino e a Petrobrás ainda reduziu a dívida”.

O terceiro erro é a desintegração da empresa porque isso retira da Petrobrás a flexibilidade do uso do petróleo. “Petróleo não é só gasolina, é também indústria de fertilizantes, é indústria petroquímica. O refino de gasolina e diesel, por exemplo, é uma forma de agregar valor ao petróleo. Esse balanço mostra isso. A Petrobrás ganha muito mais dinheiro com derivados do que com petróleo cru. Então, as empresas não são integradas por ideologia, mas é porque se ganha dinheiro com isso. Todas são assim”.

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