“Ou vão para fora ou vão para a cadeia”, diz Bolsonaro sobre opositores “Ou vão para fora ou vão para a cadeia”, diz Bolsonaro sobre opositores

Diversos, Notícias, Tribuna Livre | 26 de outubro de 2018

44512380_1272507476225073_7202592367923167232_n“Vamos varrer do mapa esses bandidos vermelhos do Brasil. Essa turma, se quiser ficar aqui, vai ter que se colocar sob a lei de todos nós. Ou vão para fora ou vão para a cadeia”. Essa frase foi dita pelo candidato à Presidência da República, Jair Bolsonaro (PSL), em um discurso exibido no último domingo (21), na Avenida Paulista, em São Paulo.

A frase é uma reedição do”Ame ou Deixe-o”, slogan utilizado durante a ditadura militar no Brasil, onde opositores do regime foram presos, torturados, sequestrados, exilados e até mortos. Apesar da gravidade da declaração, ela não foi repercutida pela mídia tradicional. Também não houve sequer uma manifestação das instituições de poder ou da Justiça – bem como não houve qualquer retaliação quando o candidato disse em outro comício no Acre: “vamos fuzilar a petralhada” (em alusão aos eleitores do PT e aos filiados ao partido).

Segundo o ex-diretor do Sindipetro/MG, Getúlio Fioravanti, que trabalhou na Petrobrás durante o período da ditadura, a reedição dessa frase é assustadora. “Naquela época, o slogan “Brasil, ame-o ou deixe-o” significava concordar e aceitar o que nos impunham os ditadores. Não era amar o Brasil, era amar o projeto de País imposto pelos militares. Achávamos que esse tempo estava morto e enterrado. Mas, não. Agora, um candidato da extrema direita volta a ameaçar qualquer dissidência.

Também o advogado e professor de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Thiago Coacci, repudia a fala de Bolsonaro. “Tais declarações não são aceitáveis dentro de um regime democrático e nossas instituições, especialmente o TSE [Tribunal Superior Eleitoral] e o STF [Supremo Tribunal Federal] deveriam controlar isso para evitar esse discurso antiinstitucional”.

Ainda segundo o professor, o discurso de ódio está muito presente nas eleições e é bastante grave, já que interfere inclusive na institucionalidade. “Esse discurso de ódio tem sido muito utilizado reforçar que as instituições não servem para nada e, com isso, tentar desestabilizar a democracia”. Ele explicou ainda que a democracia pode ser entendida a partir de um pacote mínimo de direitos que, entre outras coisas, garantam que a eleição de um líder seja livre e justa.

Mas, esses direitos só são garantidos por instituições fortes. “Se forem respeitadas, independentes e fortes, as instituições conseguem lidar com situações de ameaça à democracia e assegurar aos direitos dos cidadãos. Porém, se não temos um Ministério Público (MP), um Legislativo e um Judiciário fortes, que garantia eu tenho que de estou numa democracia e de terei meus direitos respeitados”?

Ele alertou ainda para o fato de que, independentemente do resultado das eleições, a onda de ódio não desaparecerá imediatamente e pode até se agravar. “Meu medo é do que esse discurso de ódio pode legitimar as pessoas a fazerem nas ruas”.