Vidas negras importam Vidas negras importam

Opinião | 23 de novembro de 2018

consciencia-negraNesta semana, talvez fosse mais lógico discutirmos sobre alguma nova canelada do governo Bolsonaro, sobre o novo presidente (privatista) da Petrobrás, sobre o fim da cooperação de Cuba no programa Mais Médicos ou sobre mais uma tentativa de entrega do pré-sal pelo Congresso Nacional. O momento, entretanto, é de pararmos para refletir sobre uma coisa que parece óbvia: vidas negras importam.

Em tempos de crise e retrocessos sociais, o mês da consciência negra representa um importante momento de debate com a sociedade sobre o racismo no Brasil. Por muito tempo, esse tema foi invisibilizado no debate público, especialmente pela força de uma ideia que grudou no imaginário popular como um chiclete: o mito da democracia racial. O Brasil, segundo essa ideia, seria um lugar especial e único, onde diferentes culturas e raças convivem harmoniosamente – só que não!

Por que tantos negros encarcerados? Por que tantos negros pobres, nas periferias? Por que tão poucos negros em profissões com maiores salários? Por que tão poucos negros nas universidades? Por que tão poucos negros atuando como protagonistas em novelas e no cinema? Por que tão poucos negros nas Câmaras de Vereadores, Assembleias Legislativas e no Congresso Nacional? Por que tão poucos negros juízes, desembargadores e ministros? Por que tão poucos negros concursados na Petrobrás? Por que tantos negros terceirizados na Petrobrás?

Os dados socioeconômicos envolvendo a população negra brasileira nos revelam uma realidade cruel: vidas negras importam bem menos. O racismo à brasileira, portanto, vai além do comportamento individual de pessoas preconceituosas, que insultam ou tratam os negros de forma diferenciada – há uma lógica racista no próprio funcionamento da nossa sociedade.

Em outras palavras, o capitalismo brasileiro (e global) não sobrevive sem o racismo. Se alguém perde nessa competição feroz e desigual, esse alguém é o negro – em especial, as mulheres, negras e periféricas. Felizmente, por mais que alguns queiram negar o caráter racista da construção disso que chamamos de Brasil, a população negra nunca abdicou de lutar, do quilombo ao gueto, da colônia à república “democrática”.

Vidas negras importam e, apesar de tudo, seguirão resistindo.