Bolsonaro presta continência aos interesses norte-americanos Bolsonaro presta continência aos interesses norte-americanos

Diversos, Notícias, Tribuna Livre, Política | 7 de dezembro de 2018

capa205xA bandeira do nacionalismo, que norteou a campanha eleitoral de Jair Bolsonaro, parece já estar a meio mastro. Com o slogan “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, o presidente eleito “vendeu” à parte do eleitorado a ilusão de que retomaria o Brasil para os brasileiros e de que não se curvaria a nações estrangeiras.

No entanto, não é bem isso que tem acontecido. Por mais de uma vez, Bolsonaro prestou continência aos Estados Unidos. O caso mais recente aconteceu na semana passada, durante visita do Conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, John Bolton, assessor do presidente norte-americano, Donald Trump, a quem o presidente eleito fez o gesto. Mas, no ano passado, o militar da reserva já havia prestado homenagem à bandeira norte-americana, em um restaurante em Miami, na Flórida.

De acordo com o Regulamento de Continências, Honras, Sinais de Respeito e Cerimonial Militar das Forças Armadas, a continência é uma forma de o militar manifestar “respeito e apreço aos seus superiores, pares e subordinados”. Trata-se de “uma saudação prestada pelo militar e pode ser individual ou da tropa” prestada “à autoridade e não à pessoa”.

Ainda conforme o documento, ela “parte sempre do militar de menor precedência hierárquica; em igualdade de posto ou graduação, quando ocorrer dúvida sobre qual seja o de menor precedência, deve ser executada simultaneamente”. É dada também à bandeira nacional, ao hino nacional, a autoridades e à tropa. Bandeiras, hinos e tropas estrangeiras devem ser saudados apenas em ocasiões como cerimônias cívicas e solenidades previstas no Regulamento.

Por isso, o gesto de Bolsonaro causa ainda mais estranheza. Segundo o ex-coordenador da FUP, João Antônio Moraes, a postura do presidente eleito é muito grave. “Ao bater continência para a bandeira americana quando ainda era apenas deputado, já era preocupante pois ele também era militar da reserva. Agora, enquanto presidente eleito do Brasil, ou seja, o mandatário da nação, bater continência a um civil e funcionário público americano é ainda mais grave”.

Moraes explica que a gravidade não se dá pelo descaso com as regras da continência mas pela simbologia que tudo isso representa. “É a simbologia da submissão dos interesses do Brasil aos interesses de outras nações. E, no caso particularmente dos Estados Unidos, considero ainda mais grave pois se trata de um País que é claramente concorrente do Brasil. A economia do Brasil é extremamente concorrente à dos Estados Unidos. Então, quando um governo tem essa postura, na verdade, está assumindo publicamente que vai realinhar nossas relações internacionais aos interesses estadunidenses”.

Ele lembrou ainda que, durante o segundo mandato do Lula e primeiro mandato de Dilma Rousseff, o Brasil adotou uma postura, em sua visão acertada, de redirecionamento das relações internacionais do País. Houve uma aproximação com China, países árabes e África, sem cortar relações com a economia americana mas também deixando de ser tão dependente dela – que teria sido fundamental para o Brasil crescer e gerar empregos. “Por isso, não é nenhum exagero dizer agora que, essa submissão de Bolsonaro aos interesses de Trump, a médio e longo prazo representará grandes prejuízos ao Brasil, e isso inclui todas as classes sociais, mas, em especial, os trabalhadores que têm seus interesses diretamente vinculados ao destino da nação”.