FUP participa de audiência pública do Senado que debate venda da refinaria do AM FUP participa de audiência pública do Senado que debate venda da refinaria do AM

Diversos, Notícias, Tribuna Livre | 23 de março de 2022

Dirigentes da FUP questionam privatização e citam suspeitas que vão da idoneidade da compradora ao baixo valor negociado que, segundo o Ineep, está subavaliado


por: Redação CUT | Editado por: Marize Muniz

Divulgação/Petrobrás

 

A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado realizou, nesta quarta-feira (23), uma audiência pública interativa para debater a venda da Refinaria Isaac Sabbá (Reman), em Manaus. Representantes da Federação Única dos Petroleiros (FUP), que participaram do debate, criticaram o baixo valor negociado, que segundo o Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis Zé Eduardo Dutra (Ineep), está subavaliado, e o monopólio privado que pode provocar aumentos dos preços como está ocorrendo na Bahia.

Para os debatedores, ao contrário do que diz a estatal, não haverá aumento da concorrência, mas um monopólio privado, e o preço dos derivados lá produzidos pode aumentar.

A lógica da Petrobras mudou completamente após o governo Michel Temer, e a companhia não é mais uma estatal encarregada de abastecer o país da melhor forma possível e com menos custo à sociedade brasileira, afirmou o senador Jean Paul (PT-RN).

“Venderam toda a logística de gás, depois a BR Distribuidora. Ora, lucrar assim eu também lucro […] Eles anunciam lucros oportunistas em cima da mera venda de ativos. Estamos sendo enganados o tempo todo com essa conversa. Vendem terminais, postos de gasolina, refinarias… Claro que há lucro, mas fugaz e enganoso, que vai levar a empresa virar uma empresa microscópica”, disse o senador.

Jean Paul ainda fez duras críticas ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que, segundo ele, foi omisso e conivente em relação aos processos de venda de refinarias pela Petrobras. “Não disse isso até hoje, mas tenho que dizer. O Cade é conivente, omisso e se acovardou. Não investigou mercado nenhum; não emitiu um relatório sequer provando que a Petrobras é dominante em qualquer mercado de refino de qualquer produto”.

 

Importância estratégica 

Para a pesquisadora do Ineep Carla Ferreira, a refinaria é um complexo de renda e emprego relevante, com peso fiscal para o estado e municípios, e tem influência na cadeia de fornecedores, nas relações de trabalho e na comunidade local, que pode ser prejudicada em função da venda.

Ainda segundo ela, um estudo do Ineep constatou que o ativo foi negociado por 70% de seu valor de mercado. O valor de partida seria US$ 279 milhões, e não  US$ 189 milhões, como acordado entre Petrobras e o grupo Atem.

Analista do Departamento intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Cloviomar Cararine lembrou que a Reman é estratégica. pois é a única refinaria da Região Norte e ainda conta com atuação diversificada, produzindo nafta, GLP, gasolina, querosene de aviação, óleo diesel, óleos, óleo leve para turbina elétrica e asfalto.

O especialista mostrou aos senadores gráficos refletindo a diminuição gradual da produtividade da planta nos últimos anos. Em 2021, o nível de ocupação da refinaria foi de 66%. Para ele, isso revela a perda de interesse da Petrobras e uma estratégia para facilitar a venda do empreendimento.

 

Exemplo baiano

O Coordenador-Geral da FUP, Deyvid Bacelar, disse que o que está ocorrendo agora na Bahia serve de exemplo para o que está para acontecer no Amazonas, caso a venda da Reman seja concluída.

Segundo ele, a estatal vendeu a Refinaria Landulpho Alves (RLAM), em São Francisco do Conde (BA), e logo em seguida surgiu o primeiro problema, que foi o desabastecimento. Agora os baianos ainda pagam uma gasolina mais cara.

“Está faltando óleo combustível para navios que chegam à Baía de Todos os Santos. Além disso, as distribuidoras reclamam que não conseguem ter a compra garantida. A Bahia tem hoje uma das gasolinas mais caras do Brasil, e já chega a R$ 8,90 em alguns postos, por conta do monopólio privado e da falta de compromisso da empresa que adquiriu a refinaria. Quem sofre com isso? A população”, afirmou Deyvid.

O sindicalista informou que há ações na Justiça questionando o negócio e pediu ajuda do Senado para que o processo de privatização não seja concluído.

 

Petrobrás coloca Reman à venda depois de altos investimentos

Os altos investimentos na Reman, localizada às margens do Rio Negro, em Manaus, começaram em 1995 e são mais um dos motivos de críticas à negociação para privatização. Dirigentes da FUP citam suspeitas que vão da idoneidade da compradora ao baixo valor negociado.

De acordo com o próprio site da Petrobras, desde a década de 1990, a refinaria vem realizando investimentos em todas as suas áreas. Em 2000, diz o texto, com a entrada da nova Unidade de Destilação foi ampliada a capacidade de produção para 46 mil barris de petróleo por dia.

Atualmente, complementa a nota da estatal, sintonizada com as novas tecnologias e com as exigências do mercado, executa um arrojado planejamento em várias frentes de trabalho, buscando assegurar sua permanente modernização e elevação do diferencial competitivo. Apesar desta apresentação da Reman no site da Petrobras, a estatal assinou, em agosto do ano passado, um contrato da venda da refinaria que pode prejudicar os brasileiros e o país.

Por tudo isso, a negociação para a privatização da Reman, segundo a FUP, abre espaço para uma série de questionamentos por representar um grave risco ao mercado consumidor do Amazonas e de outras regiões.

Participaram do deabte, além de Deyvid Bacelar e Carla Ferreira, o presidente da Associação Nacional dos Petroleiros Acionistas Minoritários da Petrobras (Anapetro), Mário Dal Zot.

Com informações da Agência Senado.