Entenda a importância de parques científicos e tecnológicos para promover a inovação Entenda a importância de parques científicos e tecnológicos para promover a inovação

Diversos, Notícias, Tribuna Livre | 2 de maio de 2022

Na sociedade do conhecimento, a inovação é reconhecida como um impulsionador fundamental para o crescimento econômico


Por Anderson Gedeon Buzar Reis | Simona Adriana Banacu de Melo | Felipe Venâncio Silva | Maurício Luiz Gonçalves Martiniano | Raphael Reynier Roale Martins | Rede Brasil Atual

Parque tecnológico de São José dos Campos (SP) | Foto: Prefeitura S.J. dos Campos

 

Em nota técnica na 21ª Carta de Conjuntura da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS) tratamos dos conceitos, características e benefícios dos Parques Científicos e Tecnológicos a partir de levantamento que fizemos da literatura sobre o assunto. Assim, diversas ideias e conceitos tratados na nota foram extraídos de artigos, papers e livros, cujos autores são citados na nota. Aqui, porém, em função do espaço e para facilitar a leitura, excluímos essas citações e referências bibliográficas. A nota na íntegra está disponível em https://www.uscs.edu.br/noticias/cartasconjuscs. Na sociedade do conhecimento, a inovação é reconhecida como um impulsionador fundamental para o crescimento econômico, visto que, ela está atuando em todos os segmentos econômicos, e impactando não apenas na oferta de novos produtos e serviços, mas principalmente em novos modelos de negócios.

A indústria foi por muito tempo um local no qual esperava-se que a inovação ocorresse, reservando a outras partes institucionais apenas um papel de contribuição limitada. Segundo os autores, o governo, por exemplo, atuava somente quando se identificasse a necessidade de corrigir falhas no mercado. Entretanto, a inovação se faz presente também em estruturas que envolvem universidades, aglomerações de empresas e outras instituições intensivas em conhecimento. Organismos estes, que estão criando e utilizando conhecimento intensivo e originando novos arranjos institucionais, com destaque para o surgimento de parques científicos e tecnológicos.

Os primeiros parques científicos e tecnológicos surgiram no vale do Silício no final dos anos de 1940 e início dos anos de 1960 na Califórnia, na Universidade de Stanford, através do parque de pesquisa Stanford Research Park e na Route 128, em Boston, onde se localizam o Massachusetts Institute of Technology (MIT) e a Harvard University. Menciona-se também o Research Triangle Park da Carolina do Norte, que foi criado nos anos de 1960 como uma das estratégias para se conter a crise econômica que se abateu sobre o referido estado americano anos antes.

Estas instituições se caracterizam pelo estabelecimento de empresas de tecnologia, que potencializam e estimulam o crescimento tecnológico e econômico regional. Dessa forma, esse formato de organização tecnológica espalhou-se pelo mundo, chegando na Europa e Japão nos anos de 1970 e 1980, na Ásia e Pacífico nos anos de 1980 e, no restante do mundo a partir dos anos de 1990. A expansão desse modelo de organização marcou a inovação tecnológica como diferencial competitivo para a sociedade industrial. No Brasil, os parques científicos e tecnológicos foram reconhecidos em 1984, com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que está vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) do governo brasileiro, informações recentes da plataforma InovaData-BR indicam que existem 55 parques em operação no país, que hospedam 1.878 empresas, empregando cerca de 45.000 trabalhadores.

Para um melhor entendimento da origem dos parques científicos e tecnológicos, Audy e Piqué destacam o modelo da Hélice Tríplice, apresentado por Etzkowitz e Leydesdorff, onde a inovação é promovida através da articulação entre a indústria, o governo e a universidade. As dinâmicas próprias das hélices mais as relações entre estas são capazes de desenvolver ambientes híbridos de evolução constante caracterizados pela economia baseada no conhecimento.

A definição apresentada pela International Association of Science Parks diz que os parques científicos são organizações administradas por técnicos, cuja finalidade é melhorar sua comunidade através da promoção da inovação e da concorrência das empresas afiliadas e das organizações baseadas no conhecimento.

 

Bigliardi e outros argumentam que, apesar das várias definições existentes de parques científicos e tecnológicos, as “declarações de missão” apresentam características em comum:

a) estimular a criação de spin-offs acadêmicas;

b) atualizar e substituir tecnologias utilizadas pelas empresas;

c) oferecer a função de gestão às empresas situadas dentro do parque;

d) oferecer formação em ciência e tecnologia;

e) estimular a geração de startups sem a utilização de estruturas universitárias, mas com a utilização de incubadoras, caso seja necessário;

f) efetuar transferência tecnológica visando o fortalecimento de empresas;

g) efetuar treinamentos visando o desenvolvimento e gestão de tecnologias inovadoras;

h) promover formas de interação e;

i) promover formas de contato entre o arranjo de pesquisa industrial e acadêmica.

 

Embora não exista uma definição única de parques científicos e tecnológicos, três características são fundamentais: presença de ao menos uma universidade ou instituição tecnológica para que as empresas possam manter algum vínculo formal; transferência de conhecimento; agrupamento de empresas de alta tecnologia e centros de serviços especializados.

Sobre os fatores essenciais para que haja sucesso na implantação dos parques, Steiner, Cassim e Robazzi afirmam que é preciso haver engajamento das universidades, dos institutos de pesquisa, do setor empresarial, além do governo municipal, estadual e federal. Silva, Schimiguel e Fernandes defendem que as atividades do parque devem estar relacionadas com a região na qual ele se localiza para que haja sintonia com as necessidades da comunidade local.

Outros elementos presentes nos parques são as áreas de uso compartilhado funcionais e abertas que estimulam um comportamento diferenciado das pessoas. Além disso, é comum possuírem: locais para socialização, networking internacionais, acesso a investidores e a capital de risco, tecnologias sustentáveis, utilização de laboratórios de P&D de uso comum, acesso a centros de pesquisa e universidades, orientação com relação a propriedade intelectual e empresas inovadoras.

 

Assim a literatura apresenta vários benefícios associados aos parques científicos e tecnológicos, nos quais destacam-se:

a) a colaboração com a vantagem competitiva empresarial e regional alcançada através do impacto na inovação, emprego, empreendedorismo e desempenho;

b) acesso a recursos, conhecimento, equipamento, talentos obtidos através do contato com universidades propiciado pelos parques;

c) comercialização da pesquisa proveniente das universidades;

d) acesso das empresas a escritórios, auxílio administrativo, salas de reuniões, networking com empresas, universidades e governo, acesso à internet de alta velocidade entre outros benefícios estruturais e;

e) redução de desemprego, melhora do nível de competitividade das empresas e consequente melhora da região em que o parque está instalado.

Desta forma, o parque científico e tecnológico se estabelece como um ambiente de inovação que permite ser um canal aglutinador de gestores, professores, alunos, empresas, instituições privadas, públicas e sociedade civil para coabitarem um espaço de colaboração, inovação, pesquisa e desenvolvimento que consiste em grande importância para criar uma sinergia e suportar a inovação e desenvolvimento econômico e social da localidade.


 Anderson Gedeon Buzar Reis e Simona Adriana Banacu de Melo são doutorandos em Administração pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS); Felipe Venâncio Silva, Maurício Luiz Gonçalves Martiniano e Raphael Reynier Roale Martins são mestrandos em Administração pela USCS