Quarta troca de presidente da Petrobras não vai baixar preço dos combustíveis Quarta troca de presidente da Petrobras não vai baixar preço dos combustíveis

Diversos, Notícias, Tribuna Livre | 26 de maio de 2022

Para ex-presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, troca de comando da Petrobras pela 4ª vez em 3 anos e 5 meses de governo é cortina de fumaça para tentar facilitar venda. FUP diz que troca é eleitoreira


por Rosely Rocha | Editado por Marize Muniz

Foto: EDSON RIMONATTO

 

Após apenas 40 dias como presidente da Petrobras, José Mauro Ferreira Coelho foi trocado por Caio Mário Paes de Andrade, que deve assumir o cargo com as benções do ministro da Economia, Paulo Guedes, cuja obsessão é vender a estatal, quando o Conselho de Administração aprovar seu nome.

A mudança veio após pressão do presidente Jair Bolsonaro (PL) para estatal segurar os preços dos combustíveis. Mais uma vez o presidente mente aos brasileiros dizendo estar” indignado” com os aumentos nos preços dos combustíveis, especialmente o diesel, produto mais utilizado pelos caminhoneiros, categoria que o apoia. Se realmente quisesse conter a disparada dos preços, o presidente trabalharia para alterar a política de Preço de Paridade de Importação (PPI) da Petrobras, implantada pelo ilegítimo Michel Temer (MDB) e mantida por ele. O PPI atrela os preços a alta do petróleo e a cotação do dólar.

Querendo mais uma vez jogar a culpa em qualquer pessoa, como nos governadores por causa do índice do Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICMS) cobrado pelos estados, que aliás é mantido há anos e, portanto, não é responsável pelos constantes reajustes de preços; e na atual direção da estatal que segue o PPI, ele joga para a plateia e diz que os  constantes reajustes são culpa da própria Petrobras e do Ministério das Minas e Energia (MME), como se ele não fosse o chefe da empresa e do ministério.

Caio Mário Paes de Andrade é o quarto presidente em 3 anos e cinco meses de desgoverno Bolsonaro, o que demonstra o seu desespero em tomar medidas eleitoreiras que não resolvem o problema dos altos preços dos combustíveis, acredita o secretário de Comunicação da CUT Nacional, o petroleiro Roni Barbosa.

“A troca do presidente em apenas de 40 dias é danosa, é desastrosa para uma empresa. É mais um movimento, a que tudo indica de Guedes, para destruir a Petrobras. Ele quer acelerar esse processo, de dilapidação do patrimônio nos últimos meses de governo que lhes restam”, diz Roni.

A avaliação do dirigente é corroborada pelo ex-presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, que diz que a troca é uma cortina de fumaça eleitoreira, que acaba provocando uma crise ao desvalorizar a empresa.

“Mudar a presidência a todo momento abre uma crise e a empresa fica sem rumo quando o acionista majoritário [o governo] não tem uma bússola que guie sua direção, desvalorizando a Petrobras”, afirma Gabrielli, que atua hoje como pesquisador do Instituto de Estudo Estratégicos de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (Ineep).

Na realidade Bolsonaro não quer mudar a política de preços de paridade internacional da Petrobras, que cobra em dólar um produto produzido aqui. Desvalorizar a empresa é bom para quem vai comprar. O valor de suas ações cai, tornando mais fácil a sua privatização

– José Carlos Gabrielli

O ex-presidente da Petrobras, complementa afirmando que embora Bolsonaro aposte num segundo mandato presidencial, não há tempo para privatizar a estatal ainda este ano, pois a autorização precisa passar pelo Congresso Nacional e não seria uma ‘coisa simples’.

Para o coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar “o fato é que Bolsonaro não muda ou abandona a política de preço de paridade de importação, o PPI, porque não quer. O PPI não é lei; é decisão do Executivo. A questão central é que o governo não quer briga com o mercado, com os acionistas privados, que, com o atual modelo, têm a garantia de dividendos espetaculares. O foco da gestão da Petrobrás, no atual governo, é geração de caixa, resultante da venda dos combustíveis a valores de PPI, altos lucros e dividendos para acionistas, numa política de transferência de riqueza dos mais pobres para os mais ricos, um verdadeiro Robin Hood às avessas”, declarou em entrevista a Veja

 

Lula critica troca de presidente na Petrobras

O ex-presidente Lula afirmou nesta terça-feira (24) que o presidente Jair Bolsonaro tem o “rabo preso” com a política de preços da Petrobras e não tem coragem de mudá-la. Em entrevista à rádio Mais Brasil News, segundo o Congresso em Foco, Lula criticou a decisão de Bolsonaro de trocar o presidente da estatal.

“O Bolsonaro precisa parar de falar bobagem, precisa parar de ficar dizendo que tem vontade de dar murro na mesa. Não é trocando o presidente [da Petrobras], não. Se a Petrobras é tão importante, assuma ele a presidência da Petrobras. O que ele tem que ter é coragem. Porque, na verdade, o que ele tem é o rabo preso aos preços internacionais”, declarou o ex-presidente. “Ele pode fazer uma reunião com o Conselho Nacional de Política Energética, trazer a Petrobras para a mesa. Traga o conselho da Petrobras e decida que o preço não será dolarizado, que nós não vamos pagar o preço internacional”, acrescentou.

 

Bolsonaro não se responsabiliza pelos aumentos dos combustíveis e inflação

A mudança na presidência da Petrobras é mais uma cortina de fumaça para tentar desviar a atenção da população de que o presidente da República é o maior responsável pela inflação, especialmente a dos alimentos, que tem corroído o poder de compra dos trabalhadores e das trabalhadoras, acredita Roni Barbosa.

“Ele não enfrenta o problema de frente, não toma as medidas necessárias e tenta transferir responsabilidades sobre os aumentos dos combustíveis, que provocam inflação, especialmente dos alimentos, e o presidente nada faz”, critica o dirigente da CUT Nacional

Para Roni Barbosa é preciso acompanhar de perto e com muito cuidado os desdobramentos dessa mudança na Petrobras, que deve trazer ainda mais prejuízos ao Brasil e aos brasileiros.

“Basta ver o resultado da privatização da refinaria Rlam, na Bahia, que depois de vendida para um grupo árabe cobra pelo combustível o maior preço do mundo. Esse desastre pode se repetir em todo o país se Bolsonaro continuar desmontando a Petrobras”, afirma.

Sobre a venda das refinarias brasileiras, Gabrielli concorda que é uma política desastrosa para o país.

“Desprezar o refino dos combustíveis quando temos a vantagem de ser um grande produtor de petróleo, significa entregar a soberania nacional”, conclui Gabrielli.

 

Vendas das refinarias = prejuízos bilionários

O ex-presidente da Petrobras, já havia alertado sobre os prejuízos que o país teria com a venda das refinarias. Em dezembro do ano passado, ele concedeu uma entrevista ao PortalCUT sobre o tema. Confira:

O ex-presidente da Petrobras ressaltou que desde 2016, no governo de Michel Temer (MDB-SP), início do desmonte da Petrobras com a finalidade de privatizá-la, o governo passou a diminuir a capacidade de realização as refinarias, que hoje atuam com 77% da capacidade, sendo que o ideal é a capacidade plena, entre 93% a 94%.

“Desta forma você diminui a capacidade de atender, e aumenta a importação de derivados de petróleo. Hoje importamos gasolina, diesel, gás e querosene de avião, e os planos do governo para os próximos três anos é substituir o gás de cozinha (GLP) pelo GNP (encanado), que tem transporte diferente, manuseio e formas diferentes de utilização”, conta Gabrielli.

De acordo com ele, a venda das refinarias tem efeitos a curto prazo, como a diminuição da capacidade de planejamento como um todo. No caso da Rlam, que é a segunda maior do país, sendo gerida por uma empresa isolada [fundo árabe], sem se integrar às demais refinarias do sistema Petrobras, a preocupação aumenta.

“Hoje temos 14 refinarias no sistema sendo programadas para produzir diversos derivados de petróleo. Mas, não é a mesma que produz diesel, gás de cozinha e gasolina. Elas são otimizadas para que no conjunto possam fornecer os produtos consumidos aqui no Brasil”, explicou.

“Se você vende uma, como no caso da Rlam, aquela unidade vai ser otimizada para um mercado específico e não no conjunto, consequentemente ou faltará produtos ou haverá excesso de outros. Quanto mais você depende de importação, menos autonomia tem para impor seus preços internos e, do jeito que as coisas vão, teremos mais aumentos”, afirmou.