Troca do presidente da Petrobras é cortina de fumaça Troca do presidente da Petrobras é cortina de fumaça

Diversos, Notícias, Opinião, Petroleiros na Mídia, Tribuna Livre | 3 de junho de 2022

É preciso debate real sobre preço do combustível e privatização


O novo indicado para assumir a presidência da Petrobras, Caio Paes de Andrade, sem experiência nenhuma no setor energético, é o quarto presidente da empresa em três anos e cinco meses. Semelhante ao que o governo federal fez na pandemia, em que dia sim, dia não trocava o ministro da Saúde sem de fato combater a crise sanitária, as trocas na direção da Petrobras também evidenciam a falta de efetividade para resolver o problema dos aumentos de preço dos combustíveis no Brasil.

A questão é que os preços dos combustíveis estão em níveis insustentáveis. O preço da gasolina subiu 31,22%, em 12 meses, enquanto a renda média do trabalhador caiu quase 10%, segundo o IBGE. A “indignação” do presidente, Jair Bolsonaro, não se materializa em política pública. Pelo contrário, mesmo sabendo dos efeitos da privatização da refinaria da Bahia, que tem a gasolina mais cara do Brasil, mais duas refinarias foram privatizadas, no Amazonas e no Ceará.

Em Minas, a Refinaria Gabriel Passos (Regap) pode ser a próxima a ser vendida, com impacto para o preço dos combustíveis. Dados do Observatório Social da Petrobras mostram que, se privatizada, a Regap venderia o diesel R$ 1,22 mais caro, e a gasolina subiria R$ 0,92.

As ações concretas do governo, para além das falas “indignadas” do presidente, além de não combaterem os aumentos de preços, enfraquecem a possibilidade de fazê-lo. Bolsonaro não assume a sua responsabilidade em modificar a política de preços e, o pior, entrega a riqueza do Brasil aos interesses privatistas.

Entre 2004 e o final de 2014, o valor do litro de gasolina teve pouca variação, o que se deve em boa parte às políticas de intervenção sobre o preço adotadas pelos governos. Entre 2005 e 2010, a Petrobras congelou o preço do gás de cozinha, que ficou abaixo de R$ 40 e, ainda assim, a empresa teve lucro, em 2010, de R$ 35,2 bilhões. Isso demonstra que é possível garantir rendimentos para os acionistas sem virar as costas para a função social à qual essa empresa foi pensada e construída.

Trocar o presidente da Petrobras sem alterar de fato os rumos da empresa é apenas cortina de fumaça e malabarismo midiático eleitoreiro. De fato, com a chegada do período eleitoral, e a crescente pressão popular, é possível que o governo segure os preços até a eleição, da mesma forma que ele precisou comprar as vacinas contra a Covid-19 para seu governo não esfarelar.

É necessário um real debate sobre a formação do preço dos combustíveis, investimento nas refinarias, reversão das privatizações e novos editais de contratação para petroleiros para aumentar a produção nacional e conquistar a autossuficiência em combustíveis fósseis. Sem isso, a “indignação” do presidente da República e as trocas desastrosas na diretoria da Petrobras sinalizam somente um desespero eleitoral.

(*) Alexandre Finamori é coordenador geral do Sindicato dos Petroleiros de Minas Gerais (Sindipetro-MG) 

Artigo publicado no jornal O Tempo (03/06/2022)