Para petroleiro, se a Regap for vendida, gasolina e gás podem ficar ainda mais caros em Minas Para petroleiro, se a Regap for vendida, gasolina e gás podem ficar ainda mais caros em Minas

Diversos, Notícias, Tribuna Livre | 1 de julho de 2022

Refinaria da Petrobrás, em Betim, pode ser privatizada pelo governo Bolsonaro e população mineira pagará a conta


por Debora Junqueira | Brasil de Fato

Alexandre Finamori é coordenador geral do Sindicato dos Petroleiros de Minas Gerais (Sindipetro-MG) – Foto: Sindipetro MG

 

A Refinaria Gabriel Passos (Regap), localizada em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, está à venda. A privatização, segundo Alexandre Finamori, coordenador geral do Sindicato dos Petroleiros de Minas Gerais (Sindipetro-MG), pode trazer inúmeros prejuízos para a população mineira, mas o principal é que os preços da gasolina e do gás de cozinha podem aumentar ainda mais.
“Se a venda da Regap se concretizar, será criado um monopólio privado. A empresa que comprar poderá colocar o valor que ela quiser. Isso é o que acontece hoje na Bahia, onde a Mataripe, antiga Refinaria Landulpho Alves (RLAM), vende a gasolina mais cara do Brasil”, relata.

 

Confira a entrevista:

Brasil de Fato MG – A Refinaria Gabriel Passos (Regap), em Betim, está à venda. Quais as consequências disso para os mineiros?

Alexandre Finamori – A venda da Regap é um exemplo do esquartejamento da empresa e do desmonte para a privatização. Quem vai pagar a conta é a população, com combustíveis mais caros. Se a venda da Regap se concretizar, será criado um monopólio privado.  Quem mora em Belo Horizonte, não compra gasolina em outro estado. Então, a empresa que comprar a Regap poderá colocar o valor que ela quiser. Isso é o que acontece hoje na Bahia, onde a refinaria de Mataripe, antiga Refinaria Landulpho Alves (RLAM), vende a gasolina mais cara do Brasil.

Além disso, Regap pode se tornar uma bomba-relógio para toda região do entorno. O risco ambiental é enorme. Na lógica privada de ter apenas o lucro como objetivo, as empresas abrem mão de manutenção, de mão-de-obra capacitada e qualificada. É esperado que trabalhadores sejam demitidos e que aumente a precarização. Há toda uma cadeia de empregos no entorno que perde com privatização. Essa lógica me faz lembrar dos crimes da Vale que ocorreram após a privatização.

O que tem sido feito para tentar barrar esse processo de desmonte e de privatização da Regap e da Petrobrás?

O Sindipetro e o movimento sindical dos petroleiros estão na luta contra a venda da Regap e da Petrobrás em todas as frentes possíveis.  A venda da Regap é imoral e ilegal. A refinaria está sendo oferecida a preço de banana. O sindicato também denuncia a falta de transparência sobre o processo. Nem os trabalhadores, nem os municípios são consultados ou têm acesso às informações. Há várias irregularidades e ilegalidades nessa venda e vários questionamentos judiciais foram feitos. O terreno da Regap, por exemplo, foi doado pela União e não pode ser vendido, já que a doação foi para uma empresa estatal que cumpre sua função social.

 

A diretoria do Sindipetro também tem conversado com parlamentares de vários partidos, porque mesmo alguns que defendem privatizações, são contrários à venda da Regap, por entenderem as consequências negativas que isso traz.

Bolsonaro quer acelerar a privatização da Petrobrás. Quais interesses estão por trás da entrega dessa estatal tão estratégica para o país? 

Por trás das tentativas de privatização da Petrobrás estão grandes corporações, como a Shell e a Chevron. Há muitas empresas com interesses em se apropriar do petróleo brasileiro. Neste momento específico, a privatização vem à tona como uma falsa solução para o problema dos preços altos dos combustíveis.

Na verdade, Bolsonaro se sente acuado por sua base eleitoral, como os caminhoneiros. E os preços dos combustíveis impactam diretamente a inflação, encarecem o preço dos alimentos e aprofundam a crise.

Por outro lado, o presidente é pressionado, porque, para se eleger, fez promessas ao mercado de acionistas e se comprometeu com a manutenção da política de preço abusiva, conhecida como Preço de Paridade de Importação (PPI), praticada pela Petrobrás desde o governo Temer.

Afinal, o Preço de Paridade de Importação (PPI), que impacta no preço dos combustíveis, pode ser mudado se o presidente Bolsonaro quiser?

Com a elevação do preço do barril de petróleo no mercado internacional e o aumento do dólar, o PPI aprofundou o impacto nos preços dos combustíveis, como se vê nos aumentos sucessivos desde 2017. Bolsonaro pode resolver esse problema, o PPI não é uma lei.

Como a Petrobrás é estatal, a União é a acionista majoritária e é o presidente quem indica os conselheiros que administram a companhia. Ele tem nas mãos a capacidade de promover as condições necessárias para as mudanças das políticas internas da Petrobrás. No entanto, ele não faz isso por estar preso aos interesses do mercado financeiro.

A solução que Bolsonaro aposta, para se defender, é a privatização da Petrobrás, tirando de si o peso da responsabilidade sobre os aumentos abusivos dos combustíveis. Nós sabemos qual é a solução para o problema dos combustíveis, que é mudar a política de preços da empresa. Se Bolsonaro quer resolver, que ele saia da cadeira para que outro assuma o lugar.

Como você vê a ameaça de uma CPI da Petrobrás para “apurar a formação de preços dos combustíveis”? 

As articulações de Bolsonaro com o presidente da Câmara, Arthur Lira, para privatizar a Petrobrás é estratégia eleitoreira. O objetivo deles é que a população não enxergue quem é o verdadeiro culpado dos altos preços dos combustíveis. Se tiver uma CPI da Petrobrás, a discussão tem que ser sobre a venda de refinarias pela metade do preço, para investigar quem ganha com isso.

Neste momento, a população precisa de uma solução sobre os combustíveis. Nós temos como explorar e refinar o petróleo, e a população não consegue comprar um botijão de gás de cozinha por causa do preço. A opinião pública é contra a privatização da Petrobrás, porque é uma empresa que surgiu também de uma luta popular.

Edição: Larissa Costa