O coletivo de mulheres da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT (CNM-CUT) divulgou nota de repúdio à Medida Provisória (MP) 1.116/2022, do governo de Jair Bolsonaro (PL), que promete emprego para mulheres e jovens. De acordo com as sindicalistas, a proposta, que deverá ser votada no Congresso, na verdade “joga nas costas dos trabalhadores obrigações do governo e dos empresários”. É o que destaca a repórter Dayane Ponte, do Seu Jornal, da TVT.
Oficialmente, a MP institui o “Programa Emprega + Mulheres e Jovens”, que o governo federal defende para estimular a contratação desses segmentos. Mas, na prática, o coletivo da CNM-CUT garante que a iniciativa promove ainda mais flexibilização dos direitos trabalhistas. Do ponto de vista da população feminina, a secretária de Mulheres da entidade, Marli Melo do Nascimento, destaca que a MP não cria empregos. “Ao contrário, ela está fragilizando a condição das mulheres no mercado de trabalho. A medida mais que nos afasta do mundo do trabalho”, afirma.
Uma das medidas mais criticadas é o uso do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para cuidar dos filhos e financiar cursos profissionalizantes. Dessa forma, a MP desobriga o estado e o empregador de investir nos cuidados das crianças e no crescimento profissional, deixando todo o peso para o trabalhador e a trabalhadora, garante o sindicato. “Se você olhar, o montante do fundo de garantia das mulheres é bem menor do que o dos homens. E ainda elas terão que retirá-lo para se qualificar. Então no momento de uma demissão, essa companheira não terá mais essa poupança, digamos, do fundo de garantia”, critica Marli.
Em relação aos jovens, a medida é ainda mais nociva por colocar em risco a lei da aprendizagem. Segundo o texto do Executivo, os empregadores poderão aderir ao programa em troca da isenção das penalidades e multas que sofreram por não cumprirem as cotas de menores aprendizes. A secretária da Juventude da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Bianca Garbelini, alerta que a MP pode ainda reduzir pela metade a contratação de jovens para aprendizagem profissional.
“A lei do aprendizado que estabeleceu os jovens aprendizes é um programa super importante, principalmente para jovens em situação de vulnerabilidade. E a gente está falando de uma redução de mais de 400 mil vagas para jovens aprendizes por conta dessa medida provisória. Então realmente ela é muito prejudicial. O que ela diz que vai trazer de benefício é na verdade benefício para o patrão e não para de fato os trabalhadores”, contesta a secretária.
Bianca completa que a MP de Bolsonaro é “mais uma medida eleitoreira”. “E assim como a reforma trabalhista, ela promete, mas não cumpre. Ela diz que vai trazer mais contratações, mais emprego para as mulheres e para os jovens. E com a reforma trabalhista a gente já percebeu que a precarização não traz mais empregos. Ela só retira direitos, mas não aumenta as contratações e nem melhora a situação de ninguém”, acrescenta.
A medida, no entanto, já está em vigor, porém tem validade de 120 dias. O Congresso ainda precisa avaliar a proposta. De acordo com a Agência Câmara de Notícias, a deputada Celina Leão (PP-DF), relatora da MP, disse reconhecer as polêmicas da medida sobre o programa de jovens aprendizes. A parlamentar vem sugerindo a possibilidade de retirada dos artigos que tratam sobre a temática dos aprendizes. Ou a revogação tácita de todo seu conteúdo após o prazo de vigência da medida provisória. Celina destaca que o tema já vem sendo discutido desde dezembro em comissão especial instalada na Câmara relacionada aos aprendizes. Audiência sobre essa pauta está prevista para esta quinta-feira (7), às 14h.
O movimento sindical promete, contudo, aumentar a pressão para que os parlamentares rejeitem o que classificam como “mais um ataque do governo Bolsonaro às mulheres e jovens trabalhadores”. “Nós esperamos que essa medida seja barrada para que as mulheres possam continuar lutando por benfeitorias. E que a gente consiga avançar na igualdade sempre”, defende a secretária de Mulheres CNM-CUT. “O mais importante é termos em mente que esse ano podemos mudar esse rumo que o país está tomando. Precisamos além de pressionar os nossos deputados e prestar atenção em como eles vão agir diante dessa MP, repensar os nossos votos em outubro”, adverte a secretária de Juventude da Contraf-CUT.