Crianças de Brumadinho apresentam altos níveis de metais no organismo, mostra Fiocruz Crianças de Brumadinho apresentam altos níveis de metais no organismo, mostra Fiocruz

Diversos, Notícias, Tribuna Livre | 11 de julho de 2022

Estudo mostra que 50,6% das crianças entre 0 a 6 anos apresentam pelo menos um metal em excesso no corpo


por Caroline Oliveira | Brasil de Fato

Rompimento da barragem matou 272 pessoas e segue causando impactos na saúde da população | Foto: Isis Medeiros/BDF

 

Um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Universidade do Rio de Janeiro (UFRJ) mostrou que população do município de Brumadinho, em Minas Gerais, sofre com os níveis de metais no organismo acima do tolerável. Há, ainda, excesso de doenças respiratórias e mentais.

No total, foram observadas amostras de sangue e urina de 3.297 pessoas, sendo 217 crianças, 275 adolescentes entre 12 e 17 anos e 2.805 adultos com mais de 18 anos. O estudo encontrou uma concentração elevada de metais, acima dos limites de referência em todas as faixas etárias, nas quatro regiões estudadas, Parque da Cachoeira, Córrego do Feijão, Tejuco e Aranha.

Em janeiro de 2019, o rompimento da barragem de Córrego do Feijão, da mineradora Vale, matou 270 pessoas. O estudo ajuda a detalhar os impactos de longo prazo do desastre.

 

Crianças são mais afetadas

O estudo mostrou que 50,6% das crianças de 0 a 6 anos apresentaram amostras urinárias com pelo menos um metal acima do valor de referência. Arsênio foi encontrado acima do limite em 41,9% das amostras analisadas e o chumbo em 13% delas.

Segundo a pesquisadora Carmen Froés, coordenadora do projeto Bruminha, voltado para crianças, “existe uma exposição generalizada nessas quatro localidades a alguns metais estudados, o principal sendo o arsênio. Essa exposição não significa intoxicação ou doença, mas indica que a criança, de alguma forma, está entrando em contato com esse metal, que pode ter uma ação tóxica. Nesse sentido, é fundamental que os responsáveis levem as crianças para uma avaliação de saúde.”

Na parte do estudo que analisou o desenvolvimento neurológico das crianças, foi observado em algumas delas a “não aquisição das habilidades esperadas para a idade”, afirma Fróes. A pesquisadora, no entanto, destaca que o processo pandêmico pode ter contribuído para esse cenário, ou seja, esse dado não é conclusivo. “As crianças ficaram dois anos fora da escola”, lembra.

 

Na população adulta e em adolescentes

Entre os adolescentes, 28% tinham mais arsênio na urina do que o limite tolerado. Além disso, o teste de amostras de sangue mostrou que 52,3% dos indivíduos dessa faixa etária apresentaram excesso de manganês no corpo, enquanto 12,2% tem chumbo acima do limite.

Entre os adultos o cenário se repetiu: 33,7% deles com mais arsênio na urina do que o tolerável e 37% com manganês além do limite.

Sérgio Peixoto, o pesquisador da Fiocruz Minas e coordenador-geral da pesquisa, afirma que “os resultados sobre o diagnóstico médico de doenças crônicas, bem como sobre sinais e sintomas, demonstram uma elevada carga dessas condições para a população de Brumadinho, podendo refletir na procura por serviços de saúde.”

 

Doenças respiratórias e saúde mental

O estudo também analisou a presença de doenças crônicas entre os moradores do município. Asma e bronquite asmática foram as doenças mais citadas entre os adolescentes. Entre os adultos, as doenças mais citadas foram hipertensão (30,1%), colesterol alto (23,1%) e problema crônico de coluna (21,1%). Já entre as crianças, aproximadamente metade dos responsáveis relataram alterações de saúde após o rompimento da barragem, como mudanças no sistema respiratório e na pele.

“Sobretudo nas áreas em que próximas à lama, a população relata muitos sinais e sintomas relacionados a doenças respiratórias, e também tem uma alta proporção de diagnóstico de asma”, afirma Sérgio Peixoto.

Já os dados referentes à saúde mental dos entrevistados mostram que, entre os adultos, 22,5% foram diagnosticados com depressão, índice superior aos 10,2% registrados pela Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, em 2019. Já o diagnóstico de ansiedade ou problemas do sono foi relatado por 33,4% dos entrevistados com mais de 18 anos de idade. Entre os adolescentes, 10,4% relataram diagnóstico médico de depressão e 20,1% de ansiedade.

Edição: Thalita Pires