Mais de 90% dos brasileiros divergem de Bolsonaro e aprovam gênero e educação sexual nas escolas Mais de 90% dos brasileiros divergem de Bolsonaro e aprovam gênero e educação sexual nas escolas

Diversos, Notícias, Tribuna Livre | 1 de agosto de 2022

Segundo pesquisa Educação, Valores e Direitos, apesar de grupos conservadores tentarem barrar debates, população defende a pauta


Por Redação RBA

São Paulo – A agenda conservadora do presidente Jair Bolsonaro (PL) estimula a tramitação de mais de 200 projetos no Congresso Nacional que tentam proibir a educação sexual e a discussão de gênero nas escolas. Mas uma pesquisa revela que a imensa maioria da população brasileira discorda da ofensiva do governo federal. Mais de 90% aprovam que temas relacionados à igualdade de gênero e educação sexual sejam abordados nas salas de aula.

De acordo com o levantamento Educação, Valores e Direitos, 70% dos brasileiros acreditam que a escola é mais preparada do que os pais para falar de temas como puberdade e sexualidade. A maioria, – 91% –, também avalia que a educação sexual ajuda a crianças e adolescentes identificar e se prevenir contra o abuso sexual. Os dados  indicam que a população sabe que discutir esses temas na escola também é importante para combater violência e preconceitos.

O estudo é resultado do trabalho de coordenação do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec) e da organização Ação Educativa. Realizada pelo Instituto Datafolha, a pesquisa consultou 2.090 brasileiros de 16 anos ou mais, em 130 municípios do país, de 8 a 15 de março de 2022. Divulgado neste mês de julho, o levantamento tem margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

Mostra compreensão

“A pesquisa traz muitas notícias boas para a gente. Ela mostra como é grande a compreensão da população sobre a função social da escola, como parte de uma rede de proteção das crianças e adolescentes e como é uma peça essencial para enfrentamento das desigualdades entre homens e mulheres no Brasil”, avalia a assessora da Ação Educativa, Bárbara Lopes em entrevista ao repórter Jô Miyagui, do Seu Jornal, da TVT. À reportagem, o diretor de pesquisa do Cenpec, Romualdo de Oliveira completa que esse é o aspecto mais importante da pesquisa, de mostrar que a sociedade brasileira compreende a necessidade de discutir esses assuntos na escola.

Os dados também mostram que 96% acham que as unidades de ensino devem oferecer informações sobre doenças sexualmente transmissíveis e como se prevenir à elas. Além disso, 93% também se declararam favoráveis à aula sobre como evitar uma gravidez indesejada. Para os especialistas, o brasileiro, a despeito das desinformações, entenderam que abordar sexualidade nas escolas não significa estimular crianças e adolescentes a iniciar uma vida sexual.

“Na verdade, o que estamos tentando trazer são elementos e instrumentos para que crianças, adolescentes e jovens possam exercer a sexualidade de uma forma mais segura e protegida. Para que elas saibam os limites, até onde estão dispostas a ir e até que ponto é preciso dar um basta”, explica Bárbara. “Nós compreendermos que existe na sociedade uma opressão da mulher e que é necessário se insurgir contra isso e combater a cultura do machismo e do estupro. Enfim, toda uma série de construções sociais opressivas que a escola tem condições de debater, informar as pessoas e formá-las na perspectiva de superar esse estado de coisa”, acrescenta o diretor de pesquisa.

Conservadores são minoria

De acordo com a pesquisa, as centenas de iniciativas para proibir o debate de gênero e a educação sexual nas escolas não tiveram apoio expressivo dos brasileiros. Mas elas parte de um grupo pequeno que é barulhento. Os pesquisadores concluem que a “grande mensagem” do estudo é de “respeito pela diversidade”. “A gente vê com a pesquisa que as pessoas entendem que o papel da escola vai muito além de ser conteudista. O papel da escola é de fato preparar para a cidadania e para enfrentar os nossos grandes problemas sociais, como as desigualdades sociais de gênero e raciais”, finaliza a assessora da Ação Educativa.