Regap livre da privatização: uma vitória da luta popular Regap livre da privatização: uma vitória da luta popular

Diversos, Notícias, Tribuna Livre | 23 de dezembro de 2022

Para Alexandre Finamori, coordenador-geral do Sindipetro/MG, a mobilização da categoria e a vitória de Lula foram cruciais para interromper a venda da refinaria e barrar a privatização da Petrobrás


por Sindipetro/MG

 

Qual o maior desafio da categoria petroleira em 2022?

O maior desafio foi a luta em defesa da Refinaria Gabriel Passos (Regap). Fizemos muitas ações para impedir que o governo Bolsonaro entregasse a empresa a preço de banana. Denunciamos o que a privatização da única refinaria da Petrobrás em Minas representaria para a população mineira. Esse desafio nos colocou diante de tarefas no campo jurídico, comunicação, mobilização da categoria e articulações fundamentais para o desfecho que tivemos com a interrupção do processo de venda da empresa. Dentro desse desafio, uma tarefa central era eleger o Lula como presidente do Brasil. Só é possível vencer um projeto de privatização mudando o modelo econômico e o projeto político. E isso foi feito nas urnas com a contribuição de cada cidadão e cidadã consciente e com a categoria petroleira organizada e mobilizada.

 

Como se deu o processo de interrupção de venda da Regap?

Num processo complexo como esse de privatização, com várias etapas, há muitos aspectos que não ficam claros para a população. É obscuro, sigiloso e não há transparência. A venda da Regap estava em estágio avançado com propostas de futuros interessados na aquisição da empresa. O processo foi revertido com o apoio da opinião pública e pelas condições políticas favoráveis. É importante frisar que o Sindicato investiu muito em comunicação com a base e com a sociedade, intensificamos a luta sindical e popular e articulamos com parlamentares e atores políticos importantes. Tudo isso criou uma resistência capaz de influenciar também a forma como o mercado precifica os ativos à venda, quando se considera os riscos embutidos no processo. A vitória do campo popular com a eleição do Lula foi essencial para essa vitória que ocorreu a partir da luta popular dos trabalhadores.

 

Como a mobilização da categoria fez diferença nesse processo?

O governo Bolsonaro sempre usou o método do caos, testando os limites institucionais. Ele testou também a capacidade de resposta dos sindicatos ao anunciar a intenção de privatizar a Petrobrás. A Federação Única dos Petroleiros (FUP) e os sindicatos filiados se mobilizaram, inclusive fazendo greves. Esses movimentos nacionais fizeram pressão, impedindo que se levasse adiante a privatização da Petrobrás. Essa articulação entre os sindicatos de petroleiros do Brasil foi essencial. Se não houvesse essa resistência, a Petrobrás já estaria vendida. Houve um movimento por meio das redes sociais, publicações do sindicato, debates nos grupos de Whatsapp e outros que ampliaram o debate e levaram à vitória, tanto contra a privatização como na eleição presidencial.

 

O que essa vitória representa?

Tivemos uma vitória da luta popular. Foram seis anos de resistência, desde 2016 (golpe contra a Dilma), quando aumentaram os riscos de a empresa ser privatizada. A vitória é muitas vezes não deixar que os projetos contra os trabalhadores avancem. Para a categoria, a interrupção da venda da Regap representa um alívio até do ponto de vista da saúde mental. Os trabalhadores da Petrobrás são concursados, vários abriram mão de outras carreiras e optaram por trabalhar na empresa avaliando vários fatores, inclusive a estabilidade. Muitas vezes, deixaram de fazer um mestrado fora ou ter experiências em outras áreas. Não só pelo salário, mas também pela estabilidade e por estar na maior empresa do país, onde você tem o orgulho de ajudar a construir o país. Quando a privatização é colocada com atropelos há impactos socioeconômicos para os trabalhadores. A falta de transparência gera insegurança sobre o futuro. Isso numa área de risco de explosão, incêndio, vazamento de gás tóxicos, tira as condições mínimas para que o trabalho seja exercido com segurança. Há dados que mostram o aumento do número de acidentes em períodos pré-privatização.

 

Quais os reflexos dessas vitórias para a defesa dos direitos da categoria?

No governo FHC, houve a retirada de vários direitos. Depois, nos governos Lula e Dilma, tivemos avanços em várias pautas trabalhistas. Com a retomada do desmonte de direitos trabalhistas, com Temer e Bolsonaro, passamos por mais um período difícil. Seja qual for o governo, os trabalhadores precisam se organizar para pleitear os seus direitos e avançar nas relações de trabalho. O cenário num governo democrático popular é muito mais favorável, o direito de organização da classe trabalhadora é respeitado. Se voltarmos à história, vamos observar que os períodos com mais greves foram nos governos de Lula e Dilma, porque o ambiente democrático permitia que os sindicatos se organizassem sem ser criminalizados. Lula foi eleito numa articulação ampla contra o fascismo. É um governo que vai estar em disputa. A pauta dos trabalhadores terá divergências e disputas também.