A FUP entende que o processo de crescimento da capacidade de refino da Petrobrás passa pela reintrodução da Refinaria Landulpho Alves (Rlam) aos ativos da estatal, que voltaria a ter o controle da refinaria baiana. Proposta nesse sentido foi previamente apresentada pela FUP à comitiva do presidente Lula que se reuniu com representantes do governo e do fundo árabe Mubadala Capital, que comprou a Rlam, atual refinaria de Mataripe, na Bahia, em dezembro de 2021, por menos da metade de seu valor de mercado.
Conforme a sugestão da Federação, a retomada da Rlam pela Petrobrás seria objeto de negociações diplomáticas, para se estabelecer possíveis parcerias entre a Acelen (empresa que opera a Rlam) e a Petrobrás. O fundo Mubadala demonstra interesse em adquirir outros ativos no Brasil, entre eles a Braskem, onde a Petrobrás poderia conduzir um processo de negociação de ações junto à ex-Odebrecht e hoje Novonor, em troca do controle da refinaria baiana pela estatal.
Segundo fontes que acompanham o processo, nessas situações, podem ser estabelecidas trocas ou parcerias entre os dois negócios (Rlam e Braskem), tendo a Petrobrás, contudo, o controle operacional, acionário desses ativos. O fundo Mubadala, via Acelen, e em parceira com a Petrobrás, poderia investir não apenas em petroquímica, mas também em projetos de energias renováveis, como hidrogênio verde, que tem grande potencial na Bahia, devido ao Polo Petroquímico de Camaçari estar próximo à rede de transmissão que traz energia dos parques baianos de energia eólica e solar.
Empenhado na defesa da retomada da refinaria baiana pela Petrobrás, o coordenador geral da FUP, Deyvid Bacelar, recebeu com ressalvas o memorando de entendimentos assinado em Abu Dhabi, entre a Acelen e o governo da Bahia com a previsão de investimentos de R$ 12 bilhões em dez anos na expansão da Rlam, para a produção de diesel e querosene verdes. “Investimentos novos no país são muito importantes. Porém, o anúncio da Acelen é uma intenção de investimentos futuros. No presente, o que estão investindo na refinaria? Qual a estratégia de abastecimento do mercado baiano, e a que preço para o consumidor, diante da concorrência com a Petrobrás, que disputará o mercado baiano com preços competitivos, como já disse o presidente da companhia, Jean Paul Prates?”, ressalta Bacelar, acrescentando que a Acelen não tem compromisso com o abastecimento nacional. “Pode muito bem produzir diesel ou óleo bunker para exportação”, afirma.
Ele observa que o projeto de diesel verde da Rlam foi todo desenvolvido pela Petrobrás, pioneira da tecnologia para a produção de combustível renovável. “Ele já estava pronto quando Mubadala comprou a refinaria”, diz Bacelar, lembrando que projetos de processamento de diesel vegetal estão em curso em várias unidades da Petrobrás. É previsto que as refinarias da estatal processem, em quatro anos, 9,5 bilhões de litros de combustível R5 por ano, e 2,5 bilhões de litros anuais de diesel R100 (100% renovável).
Bacelar destacou ainda que a FUP acompanha o processo de investigação sobre possível relação entre as joias com diamantes, avaliadas em R$ 16,5 milhões, doadas a Bolsonaro pelo governo da Arábia Saudita, e a venda da Rlam. A federação dos petroleiros apresentou denúncia sobre o caso ao Ministério Público Federal (MPF), no início de março.