Mulheres petroleiras são negligenciadas nos quadros técnicos e cargos de liderança, ganham menos do que os homens e seguem lutando por direitos básicos, como instalação de banheiros femininos nas áreas operacionais
[Da comunicação da FUP]
As trabalhadoras petroleiras das bases da FUP e da FNP seguem reunidas em Xerém, na Baixada Fluminense, onde participam do 2º Encontro Nacional e Unificado das Mulheres Petroleiras. Os debates na tarde desta terça (27), giraram em torno do balanço dos avanços e desafios das negociações coletivas com o Sistema Petrobrás a partir de 2023 e a definição da pauta unificada das mulheres para a campanha reivindicatória deste ano. Na quarta (28), as delegações encerram o evento, com a aprovação das resoluções, tanto no que diz respeito à pauta de reivindicações para as empresas petrolíferas, quanto às ações políticas e internas para o movimento sindical.
Complementando o debate realizado pela manhã sobre os rumos da Petrobrás, o economista do Dieese e assessor da FUP, Cloviomar Cararine, fez uma apresentação resgatando o histórico da relação lucro/dividendos nas duas últimas décadas e os impactos dessa política para as trabalhadoras e os trabalhadores. Enquanto entre 2003 e 2013, a estatal brasileira repassou anualmente aos acionistas em média 33% do lucro líquido, a partir do governo Temer, as regras de pagamento de dividendos foram alteradas, permitindo dividendos superiores a 100% do lucro. Essa política foi escancarada no governo Bolsonaro e mantida no governo Lula, a ponto da gestão Magda ter entregue aos acionistas em 2024 o percentual recorde de 207% do lucro da estatal brasileira.
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O economista ressaltou ainda a desigualdade com que a Petrobrás remunera os acionistas e os trabalhadores, que, apesar de construírem a riqueza da empresa, sofrem com limitações injustas e cumprimento de metas para receber a PLR, ao contrário dos acionistas, que podem receber dividendos até mesmo se não houver lucro líquido. Além disso, a participação dos trabalhadores na distribuição da riqueza gerada pela Petrobrás, que vinha crescendo desde 2002 e atingiu o seu pico em 2014 (21%), começou a despencar até chegar a 6% em 2022, voltando a crescer em 2023 e atingiu 12% no ano passado.
A diretora da FUP, Cibele Vieira, enfatizou a necessidade das trabalhadoras e dos trabalhadores petroleiros apontarem caminhos para estancar essa política nefasta de distribuição de dividendos, que tanto impacta a categoria e a sociedade brasileira, lembrando que o tema permeia os debates que as mulheres petroleiras estão fazendo.
Em seguida, Cararine apresentou dados sobre a presença feminina na Petrobrás e no setor petróleo no Brasil, apontando que as mulheres são atualmente 17,4% dos 49.185 empregados próprios do Sistema Petrobrás. Apesar de percentualmente esse índice permanecer estável ao longo dos últimos anos, houve uma redução expressiva do quantitativo de mulheres na estatal, em função da redução drástica de efetivos na última década. Em 2014, havia cerca de 14 mil mulheres nos quadros da empresa, enquanto em 2024, eram 8.570.
Quando analisado todo o setor de óleo e gás no Brasil, as mulheres representam 20,5% do total de trabalhadores, o que equivale a 18.331 petroleiras. Já quando se compara com outras petrolíferas estrangeiras, a diferença é ainda mais gritante: na BP, as mulheres são 38% dos efetivos; na Total, 37%; na Shell, 35%; na Exxon, 34% e na Equinor, 32%.
Por outro lado, a apresentação do Dieese demonstrou que houve um crescimento da participação das trabalhadoras em cargos de liderança no Sistema Petrobrás a partir de 2017, atingindo em 2024 a marca de 24,68%. Se comparado com outras petrolíferas multinacionais, a estatal brasileira fica atrás da Equinor, que tem 35% dos cargos de chefia ocupados por mulheres, e da Shell, onde esse percentual é de 33%.
Já no que diz respeito aos salários, o assessor da FUP ressaltou que, em média, as mulheres recebem 97% da remuneração dos homens na estatal brasileira, diferença que ainda é mais expressiva quando se analisa todo o setor de óleo e gás do país, cuja desigualdade de remuneração entre os sexos chegou a 80,2% em 2023.
Para a coordenadora do Coletivo de Mulheres da FUP, Bárbara Bezerra, os dados apresentados reforçam a necessidade das lutas por avanços nas políticas de inclusão. “Temos uma luta com diferenças abissais: enquanto os homens buscam recuperar 30% da PLR, nós estamos lutando por banheiros femininos. Como combater toda essa violência, assédios, salários menores, pouca presença feminina, com essa diferença de lutas? Acredito que precisamos romper com uma cultura de violência para avançar de fato e de direito. Conseguirmos incluir novas pautas no ACT que será negociado esse ano é um dos caminhos”, afirmou.