O sucateamento e a degradação das condições de trabalho na Petrobrás parecem não ter fim. A categoria petroleira vive, diariamente, com o medo de sair para trabalhar e não voltar com vida para casa. Diante das denúncias das federações e sindicatos, a gestão da Petrobrás fecha os olhos e tenta passar com a sua boiada privatista. Para os entreguistas, a vida do trabalhador é apenas um número de matrícula, valendo menos do que os lucros dos acionistas.
A morte de José Arnaldo Amorim, na Refinaria Duque de Caxias (Reduc), no último sábado (19), faz parte de uma grande lista de tragédias evitáveis na Petrobrás. Prestador de serviço para a Petrobrás, morto durante a jornada extra de trabalho na parada de manutenção, José Arnaldo foi vítima do descaso da gestão da empresa e do governo federal.
As demais unidades da Petrobrás não estão imunes a reprisarem esta tragédia. A empresa não está repondo a mão de obra que tem perdido, seja por afastamento médico, aposentadoria ou Plano de Demissão Voluntária (PDV). Assim, as petroleiras e os petroleiros se veem na insegurança de saírem para trabalhar sem ao menos saberem se estarão acompanhados por seus colegas durante a jornada de trabalho. A cada mês que passa, o Sindipetro/MG recebe mais denúncias de unidades da Refinaria Gabriel Passos (Regap) operando abaixo do número de efetivo mínimo.
Terceirização aumenta risco de acidentes
A terceirização de unidades operacionais, em especial a terceirização da Saúde, Meio Ambiente e Segurança (SMS), também é vista como fator de elevado risco de acidentes de trabalho. O processo, que já avança também nas unidades de Coque, Utilidades e Transferência e Estocagem da Regap, submete os trabalhadores a jornadas maiores, com salários menores. Ainda no ano passado, os sindicatos filiados à Federação Única dos Petroleiros (FUP) e à Federação Nacional dos Petroleiros (FNP), organizaram a Caravana Contra as Privatizações e as Terceirizações. Participaram das manifestações a Replan (em Paulínea/SP), Revap (em São José dos Campos/SP), Recap (em Mauá/SP), RPBC (em Cubatão/SP) e a Regap (em Betim/MG).
Na oportunidade daquele momento, o diretor do Sindipetro/MG, Leonardo Auim, alertava para as condições de trabalho dos terceirizados e para a necessidade de se construir uma luta conjunta, de toda a categoria. “Temos a concepção que a falta de efetivo se combate com concurso público e lutamos para que os atuais terceirizados tenham os mesmos direitos e condições dos trabalhadores diretos. Hoje, com a privatização batendo na porta, é fundamental construirmos lutas conjuntas. A categoria petroleira é forte, mas às vezes tem de agir para mostrar sua força, e agir nacionalmente assusta o inimigo”, afirmou o diretor durante o ato, em setembro de 2021.
Para o petroleiro aposentado e diretor do Sindipetro/MG, Leopoldino Martins, alguns gerentes têm consciência de que há possibilidade do número de acidentes aumentar em função da precarização de equipamentos e da falta de preparo de algumas empreiteiras. “A falta de treinamento e de planejamento das atividades são fatores que agravam a incidência de acidentes”, opina.
Entreguismo mata!
O diretor do Sindipetro/MG, Leopoldino Martins, relembra vários acidentes que já ocorreram na Regap, principalmente com trabalhadores de empreiteiras. Os terceirizados recebem piores salários e têm menos direitos que os concursados na Petrobrás. “Um dos acidentes aconteceu, em 1995, com o petroleiro terceirizado Daniel. Ele era filho de outro trabalhador terceirizado. Nesse caso, foi o pai que viu o filho morto nas dependências da empresa. Outro acidente fatal que eu me lembro no Coque foi, em agosto de 1998, com o trabalhador de empreiteira, Amarildo Alves”, conta com tristeza.
Leopoldino também reforça que o sindicato sempre denuncia esses problemas e suas causas. O intenso processo de sucateamento da empresa desde o governo FHC é uma delas. “Além de todos os problemas, com o processo de privatização da empresa, as trabalhadoras e os trabalhadores ficam ansiosos e temerosos por seus empregos e isso também traz transtornos para a saúde e a segurança no trabalho”, completa.