Coletivo para diminuir a desigualdade de gênero na Petrobrás Coletivo para diminuir a desigualdade de gênero na Petrobrás

Diversos, Notícias, Tribuna Livre | 2 de março de 2018

rosangela_coletivoRosângela Maria Santos é petroleira desde 2000 e diretora do Sindipetro Bahia e da Federação Única dos Petroleiros. Também faz parte do Coletivo de Mulheres da FUP. Nesta entrevista, ela explica como atua para melhorar as condições de trabalho dentro da empresa e como a participação feminina é fundamental nesse processo.

Sindipetro/MG – Como e quando surgiu o Coletivo de Mulheres Petroleiras?
Rosângela – O Coletivo de Mulheres Petroleiras da FUP foi criado em 2012, a partir de uma resolução aprovada no III Plenafup (Plénaria Nacional da FUP) O objetivo foi mobilizar, de maneira orgânica, as lutas e reivindicações específicas das trabalhadoras do Sistema Petrobrás e ampliar a participação feminina nos fóruns de deliberação da categoria, nas direções sindicais e da FUP.

Sindipetro/MG – Acredita que o Coletivo tenha surgido a partir de uma necessidade da mulher ser representada por mulheres na organização sindical, que historicamente, especialmente no caso dos petroleiros, sempre foi um espaço dominado por homens?
Rosângela – O Coletivo de Mulheres Petroleiras tem como fundamento a luta por igualdade entre gêneros. Esse é o princípio que permeia as demandas do Coletivo. Sem deixar de reconhecer as especificidades femininas, o Coletivo luta pela igualdade de direitos e compartilhamento dos deveres e que isso se reflita na organização sindical, nas negociações coletivas e nas práticas dentro da Petrobrás.

Sindipetro/MG – Quais são os principais desafios enfrentados pelas mulheres para ingressarem nos sindicatos, participarem dos debates sobre direitos trabalhistas e até mesmo de assumirem cargos nas diretorias das entidades que representam os trabalhadores?
Rosângela – O principal desafio é fazer com que as mulheres petroleiras se reconheçam dentro dessa estrutura que, como você falou, é um espaço dominado majoritariamente por homens, e homens machistas. O universo sindical masculinizado pode assustar as mulheres que não se sentem à vontade neste tipo de ambiente, onde o machismo tende a se revelar. Podemos falar também do sentimento de posse que os homens possuem sobre as mulheres e a ausência do compartilhamento de tarefas e responsabilidades domésticas. Elas ainda são, na maioria dos lares, as principais responsáveis pelas atividades domésticas e de cuidados com a família, desde os filhos, marido, pais e muitas vezes sogros também. Essa rotina sobrecarrega a vida das mulheres. A estrutura sindical até agora esteve associada à manutenção da estrutura patriarcal e sexista. E o baixo número de mulheres diretoras liberadas exclusivamente para atividades sindicais reflete a continuidade de tal estrutura.

Sindipetro/MG – E qual a importância das mulheres se organizarem e participarem dos debates nos sindicatos?
Rosângela – As mulheres trabalhadoras do mundo, historicamente, participam dos movimentos de emancipação e autonomia. A igualdade de direitos e de oportunidades sempre foi bandeira das mulheres nas sociedades machistas e patriarcais. As mulheres da CUT [Central Única dos Trabalhadores], por exemplo, se organizam desde sua criação, em 1983, se legitimando enquanto sujeitas de sua própria história debatendo a igualdade entre homens e mulheres. Foram anos de luta, desde a construção da primeira comissão até os dias de hoje, em que temos uma Secretaria da Mulher Trabalhadora para cada um dos 27 estados do Brasil e a paridade implantada na direção nacional da maior central sindical da América Latina. Hoje, a CUT é a única central que possui 50% dos seus cargos de direção ocupados por mulheres e outros 50% de homens, realizando assim a justiça na representação sindical do nosso País e contribuindo muito significativamente com o avanço da mulher no poder de decisão e formulação das políticas sindicais. A Secretaria da Mulher Trabalhadora tem por objetivo elaborar, coordenar e desenvolver políticas para a promoção das mulheres trabalhadoras, nas perspectivas das relações sociais de gênero, raça e classe, subsidiando as entidades. Assim, organizar as mulheres para intervir no mundo sindical e do trabalho sobre as questões que interferem na vida destas mulheres enquanto trabalhadoras. Tendo em vista que as mulheres são maioria no mundo do trabalho e da população brasileira, é fundamental que outras entidades se preparem para avançar nesse sentido.

Sindipetro/MG – Como o Coletivo de Mulheres Petroleiras atua e quais são suas principais demandas e frentes de ação?
Rosângela – Temos representantes em quase todas as bases e conseguimos avançar no número de diretoras sindicais que assumem um protagonismo dentro dos seus sindicatos e suas bases. Realizamos um trabalho de construção, fortificação e empoderamento da mulher junto a movimentos sociais, centrais sindicais, espaços de representação e na sociedade. Na Petrobrás, atuamos para diminuir as desigualdades de gênero nos cargos de liderança, reivindicamos que a empresa cumpra com os fundamentos que a levaram a receber o selo de Pró-equidade de Gênero e Raça. Solicitamos que sejam realizadas políticas direcionadas para mulheres. E atuamos também intermediando conflitos e situações que envolvam mulheres petroleiras em todo o sistema.

Sindipetro/MG – Ao longo desses cinco anos, quais foram as principais conquistas obtidas pelo Coletivo de Mulheres?
Rosângela – Conquistamos o aumento do tempo de Licença Paternidade, de cinco para dez dias; o Auxilio-Creche/acompanhamento; extensão da licença maternidade / parto prematuro; Política de Saúde – Direito à amamentação; diária hospitalar de acompanhante; Participação Programa de Assistência Especial – PAE; Auxilio Cuidador da Pessoa Idosa; Movimentação de empregados; e Politicas de SMS.

Sindipetro/MG – Anualmente, o Coletivo promove um encontro das mulheres petroleiras? Como é esse encontro? É aberto a petroleiras de todo o País? Já existe data e local para o encontro que ocorrerá em 2018?
Rosângela – O Encontro é Nacional e reúne trabalhadoras petroleiras de todas as bases da FUP. O próximo será no Rio Grande do Norte, entre 27 e 29 de abril. O Encontro terá como tema Mulheres na Luta pela Democracia e vai homenagear a personalidade feminista Nísia Floresta. No encontro debatemos conjuntura atual, nossas reivindicações e propomos caminhos para a organização das mulheres.