Voz da Base – Homofobia Voz da Base – Homofobia

Diversos, Notícias, Tribuna Livre | 16 de março de 2018

voz-da-base“A empresa tem se preocupado muito com o estado emocional de seus empregados, considerando que há estados que deixam as pessoas mais propícias a cometer erros e até se acidentarem. Mas, o que dizer da parcela de colegas que trabalha em um estado de estresse e ansiedade que já começa no último dia da folga grande, vai aumentando quando pega o turninho para trabalhar e só piora ao pegar serviço e ter que conviver com piadinhas e comentários que reduzem quem eles são?

Aqui falo da parcela de colegas que tem medo de ser quem é, porque o ambiente de trabalho não dá abertura para isso. O Código de Ética e o Guia de Conduta da Petrobrás têm artigos específicos que condenam qualquer tipo de discriminação, entre elas a por orientação sexual.

No dia a dia, porém, não é isso que acontece. Entendo que há colegas que cresceram em outra época, mas independente de quando cresceram e de como foram educados, o respeito sempre foi um valor. E, para quem respeitar as diferenças não foi parte da educação recebida, ainda há tempo de aprender, nem que isso seja feito por obrigação e por medo de sanções, porque como já citei, a própria empresa tem documentos que condenam qualquer forma de discriminação.

Há colegas que por convicção religiosa consideram “aberração” quem vive uma orientação sexual diferente do que as igrejas consideram “normal”. O Brasil é majoritariamente um país cristão e a mensagem de Cristo era “Amar o próximo como a ti mesmo”. Condenar, falar mal de alguém por sua orientação sexual, fazer piadinhas “inofensivas” pode receber vários nomes, mas amor definitivamente não é um deles.

Enfim, seja por uma educação em um tempo mais remoto ou por religião, nenhum colega tem o direito de desrespeitar outro.

A empresa lançou uma série de vídeos sobre diversidade no fim de 2015, sendo um deles sobre orientação sexual. Os comentários homofóbicos na intranet sobre esse vídeo estão lá para quem quiser ver: colegas que se revoltam pela empresa reconhecer direitos do parceiro do mesmo sexo; pessoas que citam que família é formada apenas por homem e mulher; e outros que se assustam pela empresa produzir tais vídeos e afirmam que piadinhas homofóbicas fazem parte da cultura e são uma forma de “quebrar o gelo” no local de trabalho.

Diante disso tudo, há colegas que ainda escondem quem são e ouvem calados tais manifestações de ódio. Há também colegas que não escondem sua orientação no ambiente de trabalho e tentam pedir respeito, mas ainda assim convivem com brincadeiras e piadinhas e precisam ouvir afirmações como: “se é gay, é porque ainda não teve um relacionamento com uma mulher” – como se alguém fosse heterossexual somente porque ainda não se relacionou com alguém do mesmo sexo. E isso cansa, consome uma quantidade de energia que leva ao esgotamento mental e físico.
A empresa tem focado muito no fator humano para zerar as taxas de acidente e faz parte do ser humano sua sexualidade e sua dignidade. Trabalhar com medo e receio e sofrer calado com piadinhas levam ao adoecimento.

Eu adoeci, adoeci porque ouvi calado por anos manifestações homofóbicas disfarçadas de brincadeiras inofensivas; porque fui questionado do porquê não ter uma namorada; e adoeci porque mesmo após contar sobre minha orientação sexual, ainda fui confrontado como se tivesse que provar que tentei ser hétero antes de ser gay.

Questionei brincadeiras, mas tive que ouvir que manifestações homofóbicas eram apenas isso: brincadeiras. E eu que deixasse o assunto de lado, que as coisas eram assim e pronto. Mas as coisas não precisam ser assim, elas podem e devem mudar, porque da forma como são hoje, elas adoecem e matam pessoas.

O índice de depressão e suicídio na população LGBT é extremamente alto. Pessoas jovens, que poderiam estar mentalmente saudáveis, produzindo, trabalhando, estão em casa, afastadas por problemas emocionais surgidos do ódio que, não importa se explícito ou velado, machuca, fere e mata.
Então, que a empresa antes de criar campanha que visa valorizar o Fator Humano e antes de solicitar a análise de estados emocionais para execução de manobras, que faça valer o que está em seu Código de Ética e Guia de Conduta para que seus funcionários LGBT trabalhem sem sentir medo por serem quem são. Para que trabalhem com saúde e com segurança, porque não há insegurança maior do que se sentir odiado em um ambiente onde se passa tanto tempo, como é o caso do local de trabalho.”

Operador da Regap
*A coluna Voz da Base foi criada pelo Sindipetro/MG para receber reclamações, denúncias, sugestões e elogios da categoria petroleira de Minas Gerais relacionados à rotina de trabalho. As contribuições devem ser enviadas para o e-mail [email protected] ou passadas a um dos diretores do Sindicato.