EDITORIAL – Lula: condenado desde 1980 EDITORIAL – Lula: condenado desde 1980

Opinião | 29 de março de 2018

lula-pb2Não é de hoje que setores da sociedade brasileira tentam construir uma imagem corrupta, incapaz e imoral sobre Luís Inácio Lula da Silva. Ainda sob o governo militar, passou 31 dias na prisão em 1980 por liderar uma greve dos trabalhadores no ABC Paulista. Em 1989, ao disputar sua primeira eleição presidencial, viu seu nome envolvido à factoides fabricados pela grande mídia, claramente entusiastas da candidatura Collor. Ao longo das campanhas eleitorais seguintes, inclusive na vitoriosa eleição de 2002, foram recorrentes as associações de Lula à posições e comportamentos considerados “radicais” e “irresponsáveis”. Segundo a tal da opinião pública, um peão, taxado de “analfabeto”, “comunista” e “cachaceiro”, não estaria à altura da faixa presidencial.

Durante e após seus mandatos, mesmo consagrado internacionalmente pelo combate à fome e pelo desenvolvimento de políticas sociais, a maior liderança popular da história recente do país se viu alvo de um longo processo de destruição de sua imagem por meio de um velho mecanismo de disputa política: o tal do “combate a corrupção”. Do circo do Mensalão aos espetáculos da Lava Jato, é incrível a insistente tentativa de imputar a Lula o título de pai da corrupção da brasileira, chefe de uma suposta organização criminosa que seria responsável por toda desgraça do povo brasileiro.

O teatro da condenação de Lula segue à risca esse roteiro. Em julgamento de poucos minutos, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) rejeitou por unanimidade o recurso apresentado pela defesa do ex-presidente contra a condenação no caso do tríplex do Guarujá. Embora ainda reste a possibilidade de um habeas corpus pelo Supremo Tribunal Federal (STF), é improvável que uma corte acovardada seja capaz de afrontar a famosa opinião pública.

A verdade é que essa tal de opinião pública, voz das elites econômicas e políticas desse país, já condenou Lula há décadas! Não são necessárias provas claras, não é sequer necessário que Lula seja preso de verdade  - basta transmitir a poderosa impressão de que “ali tem coisa” para inviabilizar uma figura política.

O que nos preocupa, no entanto, é que inviabilizar o ex-presidente é prejudicar mais do que uma simples candidatura eleitoral  –  é inviabilizar uma ideia! Diante desse clima de desilusão com “tudo o que está aí”, o povo pode acabar achando que não valeu a pena apostar num projeto popular. Nós, movimentos e organizações que nasceram do povo trabalhador e de luta, não podemos permitir isso!