Na última semana, fomos confrontados com uma notícia que revirou certas memórias inconvenientes da nossa história recente. Um documento confidencial da CIA (Serviço de Inteligência dos Estados Unidos) revelou que o ex-presidente Ernesto Geisel (1974-1979) autorizou a execução de militantes opositores do regime militar.
A informação desconstroi a imagem do general como militar moderado e bonzinho, conhecido por ter sido disposto a construir a tal “abertura lenta, gradual e segura” para um regime democrático.
Na mesma semana, “comemoramos” os 130 anos da abolição da escravidão. Apesar do marco formal, diante da assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel em 1988, a data possibilita que questionemos: a escravidão realmente acabou para o povo negro desse país? Nos últimos 130 anos, essa parcela significativa da sociedade brasileira conviveu e resistiu a uma estrutura social que reproduziu os mesmos pilares do sistema escravocrata: desigualdade, racismo, silenciamento, opressão e violência.
Discutir e evidenciar tais verdades inconvenientes é combater um histórico esforço das elites para que se apagasse a memória da escravidão, da ditadura e de toda e qualquer exploração e violência contra parcelas da nossa sociedade.
No final das contas, refletir sobre fases tão obscuras do nosso processo histórico é também lutar contra o retrocesso, seja na forma do racismo, da LGBTfobia, do colonialismo e do fascismo. Em tempos de negação da política e da expansão de um discurso de ódio, parece ainda mais urgente seguirmos inconvenientes.