Eles morrem de medo da gente Eles morrem de medo da gente

Opinião | 15 de junho de 2018

Por mais repetitivo e chato que pareça, é sempre bom lembrar: vivemos tempos de golpe. Não se trata de conversa fiada de sindicalista, mas sim da constatação, dia-a-dia, de uma intensa mudança de paradigmas. Do macro ao micro, da entrega do pré-sal ao preço abusivo no posto de gasolina, a classe trabalhadora brasileira sofre na pele as consequências de novos e sombrios tempos.

Para a categoria petroleira não tem sido diferente. Desde a ascensão de Michel Temer, petroleiras e petroleiros têm vivenciado um acelerado projeto de desmonte e privatização da Petrobrás, aliado a um processo de retirada de direitos e piora nas condições de trabalho. Em nossa primeira greve pós-golpe, entretanto, vimos uma outra cruel mudança de paradigmas para essa geração de petroleiros: a criminalização da organização e da luta dos trabalhadores.

Antes mesmo de iniciarmos nossa greve, limitada a 72 horas e sem qualquer objetivo de gerar desabastecimento para a população, fomos surpreendidos com uma decisão do TST que declarava nossa greve como ilegal e abusiva. A ação rápida e contundente da ministra Maria de Assis Calsing, que determinou multas milionárias aos sindicatos em caso de descumprimento da decisão, revelou por mais vez de que lado o poder judiciário samba. Desde a década de 1990, não vivenciávamos um ataque tão forte dos homens e mulheres da capa preta.

Se os tribunais subiram o tom contra os petroleiros depois de mais de 15 anos, os gestores da empresa parecem também ter tirado a velha cartilha para assediar e criminalizar trabalhadores em greve, guardada na gaveta desde os governos FHC.

Além de promover o cárcere privado de trabalhadoras e trabalhadores e se negar a negociar com o Sindicato, conforme prevê a Lei de Greve, a gerência da Regap enviou cartas de intimação (ou seria intimidação?) às casas de grevistas. Com o encerramento da greve, dezenas de trabalhadores receberam suspensões e advertências em todo o País.

Essa série de ferramentas de repressão contra os trabalhadores pode ter assustado parte da categoria, já que se trata de uma mudança de paradigmas para essa geração. Entretanto, embora o golpe tenha contribuído para um ambiente hostil para a nossa luta, uma coisa tem ficado clara: eles morrem de medo da gente!

A ampla e histórica adesão da categoria, a mobilização aguerrida por bandeiras que extrapolam nossas pautas internas, o apoio de movimentos populares e o sucesso no diálogo com a sociedade sobre a Petrobrás – todos esses fatores assustaram nossos inimigos. Se eles acham que podem ganhar essa briga no grito, vão ter que falar mais alto que milhares de vozes num coro uníssono: NÃO NOS CALARÃO!