Editorial – Lula e o povo: os inconvenientes Editorial – Lula e o povo: os inconvenientes

Opinião, Política | 6 de setembro de 2018

É natural que, após mais de dois anos de um golpe na cara e no lombo de brasileiras e brasileiros, pensemos nas eleições de 2018 como uma oportunidade de estancar essa sangria. Entretanto, será possível tratarmos essas eleições como um episódio normal da democracia brasileira?

Discutimos sobre os debates na televisão, ouvimos os carros de som nos bairros, recebemos os santinhos nas ruas e assistimos aos candidatos de direita tentando tomar um “pingado” na padaria sem fazer careta. Tudo parece seguir como sempre na tal “festa da democracia”, a não ser por um certo inconveniente: Luís Inácio Lula da Silva.

As eleições não serão como as outras, já que o candidato preferido da população está na cadeia. Gostem ou não de Lula, concordem ou não com sua inocência, essas eleições ficarão manchadas por excluir a maior liderança popular da nossa história. Seria o povo também um inconveniente?

Diante de seguidas e tão rápidas decisões arbitrárias contra Lula, não há mais como negar a forma diferenciada como o ex-presidente é tratado pela grande imprensa e pelo Judiciário brasileiro. Parece haver um consenso entre aqueles que possibilitaram (por ação ou omissão) o golpe de 2016: Lula deve ser descartado da vida política brasileira.

Não bastou destruir a imagem de um partido ou destituir uma presidenta legítima. Era preciso abrir caminhos para a destruição de um esboço de país mais justo e igualitário – era preciso destruir uma ideia! Inviabilizar Lula, símbolo maior dessa ideia no imaginário popular, é somente seguir o roteiro desse golpe.

No final das contas, temos duas notícias para a categoria petroleira – uma ruim e outra boa.

A ruim é que, infelizmente, não há resultado eleitoral que possa estancar essa sangria em nossa democracia. Além disso, em um contexto de crise internacional do capitalismo, com intensa pressão sobre o patrimônio e os direitos dos povos, não há previsão de paz para a classe trabalhadora.

A notícia boa é que, apesar de tantos ataques contra as candidaturas e organizações populares, ainda existe a possibilidade real de chegarmos ao segundo turno com um candidato progressista e tentarmos evitar um estrago ainda maior na história do nosso País. Felizmente, não é possível aprisionar uma ideia.