Qatar anuncia saída da Opep em janeiro. O que está por trás da decisão? Qatar anuncia saída da Opep em janeiro. O que está por trás da decisão?

Opinião | 4 de dezembro de 2018

A informação foi veiculada hoje [3 de dezembro] aqui pelo jornal espanhol El País. [1]

A Opep vem perdendo o seu espaço na geopolítica da energia. Hoje, a Opep controla apenas 1/3 da produção mundial. Porém, junto com a Rússia ela ainda tem peso.

Porém, interessa aos Estados Unidos essa fragmentação desses estados-nações que são fortes no setor petróleo desde a década de 40, quando da ocorrência do 1º Choque de Petróleo.

A pressão dos EUA por essa fragmentação é grande, ainda mais agora que os problemas do seu antigo aliado, a Arábia Saudita estão se ampliando com o reconhecimento mundial, daquilo que ao olhar do ocidente é uma ditadura, embora nunca se fale isso dos sauditas.

Vale ainda lembrar que o Qatar possui um fortíssimo fundo soberano originário da riqueza do petróleo, o QIA (Qatar Investment Authority) com ativos estimados em mais de US$ 300 bilhões.

O QIA criou uma espécie de sub-fundo controlado pelo holding founds que se chama Qatar Sports Investments (QSI), com sede em Doha, na Suíça.

O QSI tem investimentos na área de eventos, esportes e lazer. O QSI é dono do clube de futebol francês PSG, que comprou o passe de Neymar por quase R$ 1 bilhão em 2017. Também é dono do campeonato francês e da televisão que transmite o campeonato para o mundo e está por trás da organização da Copa do Mundo do Qatar em 2022. [2]

O Qatar é muito forte na extração de gás natural e o maior exportador mundial sob a forma líquida (GNL – Gás Natural Liquefeito ou LNG) que dá mobilidade ao gás.

Também é oportuno recordar que o gás natural é considerado o combustível da matriz de transição energética, porque polui menos que o óleo. Até o barateamento (relativo) das unidades de liquefação, só podia ser exportado por pipelines (gasodutos). Mas, agora esse transporte é feito por navios gaseiros (LNG) e, ao chegar ao destino, passa por unidades de regaseificação para retornarem à condição gasosa, e éusado como insumo de algumas indústrias e como fonte das usinas termelétricas (UTEs) para produção de energia elétrica.

Neste tipo de exportação de LNG, o Qatar começa a ter como concorrente forte o próprio EUA, a partir de sua base na Louisiana. No dia 21 de agosto deste ano, o blog produziu uma postagem chamando a atenção que o gás natural é parte da guerra comercial dos EUA com a China. Aliás, a China também tem interesses na aliança com o Qatar e nas relações dessa decisão [3] [4].

O Qatar, ao contrário do Brasil, sabe da onde vem a origem do seu capital – que constitui o seu fundo e depois irriga outras frações do seu capital com instalações no próprio País ou no mundo.

Referências:
[1] Matéria do El País em 3 de dez. 2017. Catar anuncia sua saída da OPEP. País é alvo de boicote dos vizinhos Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Barein e Egito desde 2017. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/12/03/economia/1543818620_154253.html?id_externo_rsoc=TW_BR_CM&fbclid=IwAR11J_tx6NBg5N1ZL4H4EuQZEU-ZiX5mvxMnevkhqegFTxwJc70Q12deR2s

[2] Sobre o assunto ver postagem do blog em 5 ago. 2017. Os fundos soberanos e o movimento do capital também na área de eventos: o caso da transferência de Neymar para o PSG. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2017/08/os-fundos-soberanos-e-o-movimento-do.html

[3] Postagem do blog em 21 de agosto de 2018. Gás natural é parte da guerra comercial EUA x China. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2018/08/gas-natural-e-parte-da-guerra-comercial.html

[4] Artigo deste autor publicado aqui neste blog em 11 jul. 2016 que aprofunda a análise da importância estratégica do GNL na geopolítica da energia. A ampliação do poder estratégico e geopolítico do Gás Natural (GNL) na matriz energética mundial. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2016/07/a-ampliacao-do-poder-estrategico-e.html

Fonte: Blog do Roberto Moraes