Redução de investimentos precariza condições de trabalho na Petrobrás Redução de investimentos precariza condições de trabalho na Petrobrás

Diversos, Notícias, Tribuna Livre | 4 de maio de 2022

A política privatista da empresa reflete na falta de investimentos em manutenção das unidades operacionais e na redução de pessoal


por Sindipetro/MG

Diante do desmonte da Petrobrás, que afeta diretamente as condições de trabalho na empresa, a categoria petroleira não tem muito o que comemorar nesse 1º de Maio, Dia dos Trabalhadores. A política privatista da empresa, cuja gestão bolsonarista visa cada vez mais lucros para os acionistas privados, reflete na falta de investimentos em manutenção das unidades operacionais e na redução de pessoal, o que compromete a segurança das trabalhadoras e trabalhadores.

Segundo dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), desde 2014, antes da Lava Jato, até hoje, a Petrobrás passou por uma mudança em relação ao perfil da categoria. A empresa reduziu seu quadro de funcionários diretos para 45,5 mil trabalhadores, fruto de PIDVs e vendas de ativos. A perda foi de 47% dos trabalhadores próprios. Praticamente a metade do quadro da empresa de 2014. Atualmente, só 5,76% das despesas da empresa são com os trabalhadores. Com concentração no Sudeste (RJ, ES e SP) e uma queda drástica no Nordeste. Já o número de trabalhadores terceirizados caiu 62%. De 360 mil empregos terceirizados, hoje são cerca de 99,1mil.

O economista Cloviomar Cararine, da subseção do DIEESE na FUP, explica que a Petrobrás vem num processo de troca dos trabalhadores próprios por terceirizados sem aumentar o número total de empregados, o que, segundo ele, tem a ver com o projeto de Petrobrás de redução dos investimentos e venda de ativos. De 2013 a 2021, a Petrobrás vendeu 93 ativos (79 no Brasil e 14 no exterior), totalizando US$59,8 bilhões arrecadados. Somente no governo Bolsonaro, entre janeiro de 2019 e março de 2022 foram vendidos 62 ativos (67% do total até fev\22).

“Isso afeta as relações de trabalho porque há uma desigualdade muito grande entre esses dois tipos de emprego onde o trabalhador próprio tem salários maiores e melhores condições de emprego. Geralmente, os terceirizados têm empregos precários com salários ruins e condições de segurança ainda piores do que os próprios”, opina o economista.

 

Desafios em relação às condições de trabalho

 

Segundo Cloviomar, a categoria petroleira hoje vive alguns dilemas. Um deles tem a ver com a pandemia e a pós-pandemia.  “Muitos dos que ficaram em home office agora estão voltando ao local de trabalho e há uma transição desafiadora. Boa parte dos trabalhadores vai em direção a um trabalho diferente do que do que eles estavam acostumados, principalmente o pessoal do regime administrativo”.

Outro desafio para as condições de trabalho das petroleiras e dos petroleiros é a adaptação às novidades tecnológicas em um dos setores que mais produz tecnologia do mundo. Sempre que entra um robô, há redução de pessoal. A saúde e a segurança no trabalho também preocupam. “A Petrobrás, com a redução de investimentos, coloca os trabalhadores em situação mais precária. Essa já é uma categoria que vive no risco. E quando você tem um período de venda de ativos sempre aumenta o número de acidentes. Isso aconteceu nos anos 90, quando a Petrobrás tinha uma política de redução de investimentos e tentativa de venda da empresa. Isso foi um fator que acabou aumentando muito o volume de acidentes nos anos seguintes”, alerta.

Os dilemas não são apenas dos trabalhadores da ativa. As investidas do capital sobre o trabalho afetam também o pós-emprego, a aposentadoria. Benefícios como planos de saúde e previdência (AMS e a Petros) estão sofrendo uma série de ataques. Os aposentados e pensionistas são vítimas do aumento de custo e redução da qualidade dos serviços prestados.

 

Dividendos exorbitantes

Enquanto as petroleiras, os petroleiros e o povo amargam os efeitos das políticas dos governos que entram e saem, os acionistas, inclusive estrangeiros, comemoram seus dividendos cada vez maiores. A empresa teve um lucro líquido de 106,7 bilhões de reais e distribuiu dividendos recordes de 101,4 bilhões de reais referentes ao exercício de 2021.

Na distribuição do Valor Adicionado Distribuído da Petrobrás, os\as trabalhadores\as que geraram a riqueza têm um peso cada vez menor. No ano passado, o Valor Adicionado Distribuído atingiu o maior valor, chegando a R$403 bilhões. A participação dos trabalhadores vinha crescendo desde 2003 e atingiu seu pico em 2014 (21%), porém, de 2015 para cá, essa participação vem caindo, ficando, em 2021, com 8%. Os Governos (União, Estados e Municípios) ficaram com 46% desse montante em pagamentos de tributos, os acionistas da empresa ficaram com 27% e as instituições financeiras e fornecedores com 19%.

 

1º de maio: uma data histórica para a redução da jornada de trabalho

 

Com um simbolismo entre os trabalhadores em todo o mundo, o Dia Internacional dos Trabalhadores remonta a 1886, quando em Chicago, nos Estados Unidos, uma greve iniciada em 1º de maio mobilizou cerca de 300 mil trabalhadores pela redução da jornada de trabalho, que chegava a 17 horas por dia. A redução da jornada de trabalho para oito horas diárias se tornou a principal bandeira da classe operária mundial sob a inspiração de Karl Marx, desde 1864.

Em 1889, a II Internacional Socialista, uma central sindical, convocou manifestações para o primeiro dia de maio, para lembrar dos operários de Chicago e estimular a luta pela jornada de 8 horas. Em 1891, a polícia atacou os manifestantes de 1º de Maio na França, resultando na morte de dez trabalhadores. Em 23 de abril de 1919, o senado francês ratificou a jornada de trabalho de 8 horas e proclamou o dia 1º de maio como feriado nacional.

No Brasil, a primeira comemoração do 1° de Maio, em praça pública, foi em Porto Alegre, em 1892. No país, uma greve geral em 1917, pressionou por mudanças no cenário operário e, em 1924, o então presidente Artur Bernardes decretou o Dia do Trabalhador.

Como mostra a história do Dia do Trabalhador(a), as conquistas por direitos e dignidade, ao longo da história, só vêm após muita luta.