‘A fome é o limite’, afirma economista sobre impacto do diesel no preço dos alimentos ‘A fome é o limite’, afirma economista sobre impacto do diesel no preço dos alimentos

Diversos, Notícias, Tribuna Livre | 12 de maio de 2022

Como ocorreu nos últimos dois anos, aumento do diesel deve ter impacto direto no preço dos alimentos. Com queda na renda, população não aguenta novos reajustes


por Tiago Pereira, da RBA

Economista do Dieese critica falta de políticas para conter preços dos combustíveis, enquanto a população não tem dinheiro para comprar alimentos | Foto: Tânia Rego/Agência Brasil

 

O aumento de 8,8% no preço do diesel nas refinarias anunciado no último fim de semana deve impulsionar ainda mais a inflação. Em especial, os alimentos devem ficar mais caros, já que a maior parte da produção é distribuída por caminhões. Transportes e Alimentação foram os dois grupos com maior peso na inflação de 1,06% em abril, que teve a maior alta no mês desde 1996, de acordo com o índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo IBGE.

Para a supervisora de pesquisas do Dieese, Patrícia Costa, a alta dos alimentos deve esbarrar num limite: a queda da renda da população. Ela afirma que é difícil medir antecipadamente os impactos da alta do diesel, mas é um “fator importantíssimo”. Isso vai depender, segundo ela, da capacidade dos transportadores em repassarem esses aumentos ao consumidor.

“Para alguns alimentos, já estamos chegando no limite. Porque o limite é a renda disponível. A gente tem uma demanda muito reprimida. O que está acontecendo é que as pessoas não têm dinheiro para comer”, afirma a especialista. Para reforçar esse argumento, ela cita o preço recorde da cesta básica, que chegou a R$ 800 em São Paulo, o que corresponde a 71% do salário mínimo.

“O que te sobra depois de comprar os alimentos? Praticamente nada. Na verdade, você vai fazer uma conta reversa. Primeiro a pessoa paga o aluguel, depois os serviços essenciais, como água, gás e luz. E o que sobra para comer? É por aí que eu acho que o limite está dado. Está dado pela fome das pessoas.”

Nesse sentido, ela citou a queda do poder de compra do salário mínimo, assim como o aumento do número de pessoas que recebem apenas o mínimo. Além disso, ela destacou levantamento do Dieese no mês passado mostrando que 52% dos acordos salariais ficaram abaixo da inflação.

 

Críticas à Petrobras

A economista explica que a inflação dos alimentos vem ocorrendo desde o ano passado, mas foi agravada por conta da guerra entre Rússia e Ucrânia. No entanto, ressaltou, é a política de Preços da Petrobras – o chamado Preço de Paridade de Importação (PPI) – que vem atuando como correia de transmissão dos aumentos no cenário externo para o mercado consumidor brasileiro.

“A gente vê notícias de que a Petrobras tem lucro atrás de lucro. Será que parte desse lucro não poderia servir para absorver esses impactos, e não ter elevação de preço tão grande internamente?”, questiona a especialista. “O que mais me incomoda é sermos um grande produtor de petróleo, mas não temos um ‘colchão de amortecimento’ para esses aumentos, num momento em que a população está passando fome.”