Após já ter distribuído nas últimas semanas R$ 48,5 bilhões em dividendos aos acionistas (nos dias 20 de junho e 20 de julho), a diretoria da Petrobrás anunciou a antecipação de mais R$ 87,81 bilhões referentes aos resultados do segundo trimestre. O Conselho de Administração aprovou nesta quinta-feira, 28, remunerar os acionistas a R$ 6,73 por ação, quase o dobro do valor de R$ 3,71 que a empresa havia pago por cada ação na distribuição dos dividendos do primeiro trimestre.
Ou seja, às custas da política de preços abusivos dos combustíveis, das privatizações e dos cortes de investimentos no Brasil, a gestão da Petrobrás está entregando R$ 136,31 bilhões aos acionistas somente no primeiro semestre do ano. Um valor que já ultrapassa de longe os exorbitantes R$ 101 bilhões que os acionistas receberam em 2021.
“E um verdadeiro saque ao patrimônio público. Estão raspando os cofres da Petrobrás, ao apagar das luzes desta gestão entreguista, algo sem precedentes na história da empresa”, denuncia o coordenador geral da FUP, Deyvid Bacelar, lembrando que 37% dos dividendos são reservados ao Estado brasileiro e os outros 63% ficam com os acionistas privados, sendo que 40% são destinados a investidores de fora do Brasil.
Ele chama atenção para a apropriação indevida que os acionistas vêm fazendo da renda que a Petrobrás deveria estar gerando para o povo brasileiro, , enquanto empresa pública. “É um escândalo a diretoria da estatal pagar aos acionistas quase 7 reais por ação e reduzir apenas 15 centavos no litro da gasolina, cujos preços abusivos têm impacto na inflação e na vida de todos os brasileiros”, afirma Bacelar. Só no governo Bolsonaro, a política de Preços de Paridade de Importação (PPI) já resultou em aumentos de mais de 155% na gasolina e de 203% no diesel comercializados pelas refinarias da Petrobrás.
O economista Eduardo Costa Pinto, pesquisador do Ineep, ressalta que os cerca de R$ 88 bilhões que a diretoria da Petrobrás reservou para os acionistas equivalem a um quinto do atual valor de mercado da Petrobrás, estimado em R$ 428,7 bilhões. “Em apenas um trimestre, a empresa vai distribuir aos acionistas cerca de 20,5% do seu valor. Desse total, R$ 35,5 bi vão para acionistas estrangeiros, R$ 32,5 bi para o governo e R$ 20,7 bi para os acionistas privados nacionais”, aponta o economista.
A farra escandalosa dos “superdividendos” da Petrobrás acontece em plena campanha eleitoral e logo após a equipe econômica de Bolsonaro pedir a contribuição das estatais para fechar as contas deficitárias do governo. Os acionistas privados e a União receberão a bolada bilionária da Petrobrás em duas parcelas, que já serão pagas em agosto e em setembro. Ou seja, antes das eleições de outubro.