Os petroleiros e petroleiras que participaram da histórica greve de fevereiro de 2020 podem encher o peito de orgulho e reafirmar que a luta coletiva jamais será em vão. Um sonho sonhado junto se torna, sim, realidade e a categoria continuará mobilizada pela reconstrução integral do Sistema Petrobrás
[Por Alessandra Murteira, da comunicação da FUP]
Dirigentes da FUP, do Sindiquímica Paraná, do Sindipetro PR/SC e de diversos outros sindicatos petroleiros do país participaram nesta sexta-feira, 05, do evento histórico de recepção dos trabalhadores da Fafen Paraná, que retornam ao Sistema Petrobrás quatro anos após terem sido demitidos no governo Bolsonaro, quando a fábrica foi fechada.
Inicialmente, foram recontratados 242 petroquímicos, todos altamente especializados, que trabalharam entre 10 e 20 anos na unidade e conhecem como ninguém a planta de fertilizantes nitrogenados de Araucária. Eles serão responsáveis pela retomada da Fafen, cuja expectativa é que gere mais de 2 mil postos de trabalho, voltando a dinamizar a economia da região.
A recepção dos empregados foi realizada no Campus Zilda Arns, centro de treinamento da Petrobrás em Araucária. O diretor do Sindiquímica PR, Paulo Antunes, um dos trabalhadores recontratados, não segurou a emoção. “Esse retorno é muito simbólico. Nos últimos quatro anos passamos por períodos inimagináveis. Trabalhadores tiveram que mudar de cidade pela falta de emprego, infelizmente perdemos colegas na pandemia, mas o sentimento hoje para nós é o de viver um momento histórico sem precedentes. Houve uma grande expectativa pela retomada da Fafen-PR e hoje ela se consolidou. O clima é de muita alegria, muita foto do pessoal com crachá, muita felicidade”, comemorou.
Outro petroquímico readmitido, o diretor da FUP Ademir Jacinto, que participou ativamente de todo o processo de construção do acordo para retorno dos trabalhadores, ressaltou que a luta não se esgotou e que as entidades sindicais continuarão pressionando para que todos os demitidos sejam recontratados.
“Tivemos algumas perdas, infelizmente o pessoal do administrativo não pôde voltar devido à proposta da empresa que não abrangeu esses trabalhadores. Mas, sim, foi uma grande vitória e temos que comemorar porque esse é um acontecimento histórico dentro do trabalho. Foram muitas as articulações que fizemos no Ministério Público, no TST, na FUP. Foi um processo longo, mas que ao final deu certo”, destacou.
A deputada federal e presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann, que teve papel decisivo na luta da categoria pela reabertura da Fafen PR, também comemorou o retorno dos trabalhadores. “Acompanhei todo o processo de reabertura da Fafen, que foi fechada em 2020 por Bolsonaro e voltou à ativa por determinação do presidente Lula, que sempre defendeu a autonomia do país no setor de fertilizantes. Hoje é dia de comemorar, junto aos trabalhadores e sindicatos, por essa vitória. Continuaremos empenhados na luta pela soberania do país, pelos direitos dos trabalhadores e pelo desenvolvimento do Brasil”, afirmou em sua conta no Instagram.
A reabertura da Fafen PR e o retorno dos trabalhadores demitidos têm sido prioridades da FUP e de seus sindicatos, desde a histórica greve de fevereiro de 2020. Ao longo dos últimos quatro anos, essa pauta esteve presente em cada ato e mobilização da categoria; em denúncias, representações e ações judiciais; em diversas audiências e articulações políticas, reuniões com representantes do governo e gestores da Petrobrás.
A reabertura da Fafen PR é também um dos eixos da Pauta Petrobrás pelo Brasil, cujas propostas foram apresentadas pela FUP à equipe de campanha de Lula, no começo de 2022, e posteriormente incorporadas ao capítulo de energia do seu programa de governo. Já na transição de governo, as lideranças sindicais petroleiras tiveram o compromisso de que a fábrica de Araucária seria reaberta, os trabalhadores readmitidos e a Petrobrás voltaria a ter protagonismo no setor de fertilizantes.
A luta da FUP para que essa promessa se concretizasse atravessou também os fóruns participativos de construção de política públicas nos quais a entidade tem assento, como os Conselhos Nacional de Fertilizantes (Confert) e Desenvolvimento Econômico Social Sustentável, o Conselhão.
O primeiro passo para trazer de volta os petroquímicos do Paraná foi dado no dia 23 de novembro de 2023, quando o Conselho de Administração da Petrobrás aprovou o novo Plano Estratégico, prevendo a reabertura da Fafen PR e a conclusão das obras da Fafen MS. Na sequência, a FUP e o Sindiquímica PR apresentaram à gestão da empresa um parecer jurídico recomendando a recontratação dos trabalhadores que foram demitidos em 2020, dada a larga experiência e conhecimento que eles têm da fábrica de Araucária.
As lideranças sindicais reforçaram a cobrança no dia 05 de fevereiro, durante a audiência de conciliação com a Petrobrás no TST, referente à Ação Civil Pública em que o MPT denunciava a empresa por arbitrariedades cometidas no processo de demissão dos trabalhadores da Fafen.
Somente no dia 17 de abril, a diretoria da Petrobrás aprovou a negociação dos termos do acordo para recontratação dos demitidos e o início dos trâmites para retomada da fábrica. Já no dia seguinte, a FUP e o Sindiquímica se reuniram com representantes da estatal para cobrar um Acordo Coletivo nos mesmos moldes do que era praticado antes do fechamento da Fafen.
A partir de então, foram realizadas várias rodadas de negociação com a Petrobrás e novas audiências de conciliação no TST com participação do MPT, que resultaram na celebração de um acordo que foi homologado pelo Tribunal no dia 12 de junho.
O dia 14 de janeiro de 2020 ainda é um trauma para os trabalhadores da Fafen Paraná. Era o início do segundo ano do governo Bolsonaro, já em curso o processo de desmonte do Sistema Petrobrás, que seria acelerado nos meses seguintes, em meio à pandemia da Covid-19. Foi nessa data que a Ansa comunicou ao Sindiquímica Paraná que a fábrica de Araucária seria fechada e todos os trabalhadores demitidos.
O anúncio desestruturou a vida de mil empregados próprios e terceirizados da Fafen. Muitos deles atuavam há mais de 20 anos na fábrica. Vários até hoje sofrem as consequências de uma decisão arbitrária, que empurrou o Brasil para uma dependência ainda maior das importações de fertilizantes.
Os petroleiros resistiram o quanto puderam a essa tragédia anunciada, aderindo em peso à greve nacional por tempo indeterminado, que foi deflagrada pela FUP no dia primeiro de fevereiro de 2020. Foi a segunda maior da história da categoria e o primeiro grande enfrentamento da classe trabalhadora aos ataques do desgoverno Bolsonaro.
Por mais de 30 dias, os petroquímicos permaneceram acampados em frente à fábrica de Araucária, se revezando em uma vigília permanente para impedir o fechamento da unidade. Na sede da Petrobrás, no Rio de Janeiro, quatro dirigentes da FUP e um diretor do Sindiquímica PR ocuparam por 21 dias uma sala do andar da Gerência de Recursos Humanos, cobrando negociação para buscar alternativas para preservar os empregos.
A solidariedade foi outra marca desse movimento. Já no terceiro dia de greve, um grande acampamento foi montado pelos movimentos sociais em frente à sede da Petrobrás, na Avenida Chile, no Rio. Petroleiros, petroquímicos e diversas organizações populares permaneceram em vigília, dia e noite, realizando diversas atividades em apoio à luta da categoria.
As ações solidárias dos petroleiros, com doações e venda subsidiada de combustíveis a preço justos, começaram também na greve de 2020 e se transformaram na principal estratégia de luta da FUP e dos sindicatos para denunciar a vergonhosa política de preço de paridade de importação (PPI).
Mesmo com toda a resistência da categoria petroleira, a gestão bolsonarista da Petrobrás seguiu adiante com o projeto de desmonte da empresa. O fechamento da Fafen PR não só desestruturou centenas de famílias de trabalhadores, que foram demitidos sumariamente, como também aumentou a dependência do Brasil das importações de fertilizantes nitrogenados.
Passados quatro anos, os petroleiros e petroleiras que participaram dessa greve emblemática podem encher o peito de orgulho e reafirmar que a luta coletiva jamais será em vão. Um sonho sonhado junto se torna, sim, realidade. A categoria petroleira ainda segue mobilizada pela reconstrução integral do Sistema Petrobrás. A reabertura da Fafen Paraná e o resgate da dignidade dos companheiros petroquímicos são legado dessa luta e, acima de tudo, mantêm acesa a chama da resistência.