O Golpe Civil-Militar, que completa 60 anos em 31 de março de 2024, deu início ao período conhecido como “anos de chumbo”, quando a repressão promovida pelo regime militar foi intensificada entre os anos de 1968 e 1979. Uma época que ficou marcada na memória de estudantes e trabalhadores, principalmente de lideranças sindicais e políticas perseguidas, como o ex-presidente do Sindipetro/MG, na gestão iniciada em 1968, Agnaldo Aquiles Quintela.
Em depoimento ao Sindipetro/MG para o vídeo comemorativo dos 60 anos do Sindicato, ele relatou alguns desafios enfrentados no período. “Logo após o Golpe Militar, trabalhadores da Petrobrás foram demitidos, inclusive dirigentes sindicais”. Dados históricos comprovam que, no período da ditadura militar, a Petrobrás foi utilizada na repressão aos trabalhadores, inclusive cedendo sua estrutura para ações de perseguição e tortura de lideranças políticas.
O regime militar impôs censura e repressão, restringindo as atividades e a liberdade de expressão dos parlamentares e de toda a sociedade civil. O movimento sindical também foi desmantelado. “Quando eu entrei no Sindipetro/MG, o Sindicato estava muito inoperante. A ditadura foi brava. Era muito difícil qualquer atividade sindical. Quando estava na liderança, nós fomos até muito atrevidos, eu costumava visitar os setores da empresa todos os dias, fazendo a propaganda política, um verdadeiro curso de formação, e à noite, eu e um outro companheiro, o Afonso Cruz, discutíamos as experiências. Até que o Sindicato começou a ganhar força para conseguirmos fazer reuniões e debates com cerca de 30 pessoas”, relata.
Agnaldo também conta que, como estudante de sociologia, também foi perseguido. “Certa vez, estava indo para a faculdade quando dois policiais ameaçaram me deter, falei que ia fazer uma prova e eles me deixaram ir. Eu estava com uma pasta cheia de livros de esquerda. Imediatamente, voltei para casa e deixei os livros”, lembra.
Ele conta que costumava participar muito de manifestações de rua nas lutas de resistência ao regime. “A gente levava pancada e era detido, depois eles nos soltavam. Eu dei muita sorte quando prenderam a turma toda. Eu estava em outra cidade fazendo um curso e, quando voltei, encontrei todo mundo arrebentado”.
“Essa greve acordou o país”
“Um momento histórico foi a greve dos Metalúrgicos de Contagem e, em Osasco(SP), em 1968. A primeira grande paralisação após o golpe de 64. Essa greve acordou o país. Foi uma politização fantástica e um grande avanço, mesmo com os trabalhadores apanhando muito”, enfatiza. Segundo Agnaldo, nessa greve, mais de 500 operários com barras de ferro nas mãos enfrentaram a Polícia. “Os petroleiros se solidarizavam com os metalúrgicos, nossos sindicatos eram próximos. Durante a greve, as lideranças sindicais dormiam sentadas no chão do sindicato e havia muita cooperação. Falo desse momento com muito carinho, porque senti nascer ali a força do povo por mudanças”, complementa.