PlenaFUP debate desafios da classe trabalhadora e do sindicalismo em tempos de golpe PlenaFUP debate desafios da classe trabalhadora e do sindicalismo em tempos de golpe

Diversos, Notícias, Tribuna Livre | 4 de agosto de 2018
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A VII Plenária Nacional da Federação Única dos Petroleiros (PlenaFUP) debateu na manhã desta sexta-feira (3) o papel histórico da classe trabalhadora brasileira e sua importância na atual conjuntura de golpe político pela qual o País passa. A mesa “Mobilizar e Ampliar o Diálogo com a Sociedade” também apontou os desafios do sindicalismo diante desse cenário.
O historiador e pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Paulo Fontes, abriu o debate destacando a produção histórica acerca do mundo do trabalho e a importância do passado na construção do futuro. “A história e memória são fundamentais para a construção de uma identidade de classe e social”.
Ele citou ainda a questão da lógica do imediatismo como algo que precisa ser combatido pelos movimentos de esquerda e pelos sindicatos como parte desse trabalho de recuperação ou reconstrução do sentimento de classe.
“A era do neoliberalismo é fundamentalmente a era do presentismo. Para a lógica neoliberal funcionar ela precisa apagar a ideia de o passado ter alguma importância. Ela tem que reforçar a ideia da novidade permanente. Então, há pouco espaço pra reflexão histórica. E se a gente quer contrapor essa lógica, a gente tem que inverter esse sentido e não achar que o passado é ultrapassado. No caso Brasil, isso é ainda mais forte porque a lógica de dominação dos setores tradicionais é uma lógica que enfatiza uma suposta ideia de passividade e de pacifismo do povo brasileiro. Esse é o discurso oficial desde a construção dessa nação pelas elite”.
Já o dirigente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Julio Turra, recuperou a história da formação do sindicalismo brasileiro – ainda no século XIX – e suas mudanças ao longo da história. Ele dividiu a história da luta sindical no Brasil em três momentos: um momento inicial de quando surgem os sindicatos formados majoritariamente pelos imigrantes e em um contexto de fim da escravidão e com a maioria dos trabalhadores rurais; um segundo momento que é o chamado “sindicalismo corporativo”, onde o Estado disciplinava classe trabalhadora e as relações entre burguesia e proletariado e que acabou por criar um sindicalismo burocratizado; e o terceiro momento que seria o momento atual, em que há uma crise do capitalismo e, consequentemente, do sindicalismo e da política.
“Só agora, om a contrarreforma trabalhista do Temer e pela mão da direita e não por nós, é que começaram a desmantelar algumas coisas da estrutura oficial como o imposto sindical – que a CUT sempre foi contra mas que todos os sindicatos cutistas mamavam nas tetas do imposto sindical. Alguns mais vanguardistas até devolviam o imposto sindical, mas apenas para os sócios”.
Ele lembrou ainda que, além do imposto sindical que foi suprimido recentemente mas que era um resquício da intervenção do governo nos sindicatos, o Brasil ainda tem outra particularidade que reforça o poder do Estado sobre a organização dos trabalhadores que é o monopólio de representação sindical.
“A CUT surgiu há 35 anos pra combater isso e defender a unidade dos trabalhadores, mas não a unicidade imposta pelo Estado. A proibição da existência de mais de um sindicato em uma mesma base territorial mínima de um município. Isso impede até hoje o Brasil de ser ratificador da principal convenção 87 da OIT [Organização Internacional do Trabalho], que diz que o trabalhador tem direito de formar um sindicato do jeito que ele bem entender, sem interferência do patrão e sem intervenção do Estado”.
Divanilton Pereira, diretor da da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), finalizou as apresentações destacando a sintonia política das falas anteriores e pontuou que o que unifica as centrais sindicais é pressuposto básico do objetivo estratégico de ganhar a disputa presidencial em curso.
“Não é tarefa simples nem pra poucos por mais combativos que sejam, não é tarefa apenas do movimento sindical ou de esquerda, mas sim de milhões, organizados ou não”. Divanilton reafirmou que a tática da amplitude é imprescindível para alcançar objetivos imediatos para o Brasil.
Desafios
Um dos desafios colocados por Turra foi a criação de uma ideologia da classe trabalhadora. “Não existe consciencia de classe que não seja reusltado de um trabalho paciente e sistemático de formação. Numa sociedade dividida em classes, a consciencia dominante é a imposta pela classe dominante”.
O mesmo ponto foi levantado pelo líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile. “A ideologia da classe trabalhadora vem de fora. Se não fosse isso, o povo pobre do Nordeste já tinha feito dez revoluções. Não é a pobreza que dá condição de você interpretar a realidade que você vive, são as ideias que explicam a contradição que você vive. Então,  ideologia sempre vem de fora da classe. Então, o trabalho de base é fundamental nesse processo que é o trabalho sistemático de ir lá e explicar. E isso a esquerda não faz mais”.
Ele também ressaltou a importância de que a esquerda tenha seus próprios meios de comunicação para fazer a disputa de narrativas com a mídia hegemônica e a formação política de militantes – que no período dos governos Lula e Dilma se afastaram da luta e dos movimentos para se dedicarem ao governo.
Mas, o principal desafio apontado por Stédile é a liberdade e eleição do ex-presidente Lula. Segundo ele, qualquer que seja o candidado eleito para o próximo período que não seja Lula há um forte risco de novo impeachment e de total instabilidade política e econômica no Brasil.
“Estamos diante de uma luta de classes que o centro é o Lula. Ele se transformou no símbolo da classe trabalhadora. Ele não é o PT ou a esquerda, é a classe trabalhadora. E eleição sem Lula é fraude porque exclui a classe trabalhadora. A luta principal agora é libertar o Lula e elegê-lo. Ele é a porta de saída da crise. Se conseguirmos elegê-lo, significa que a classe trabalhadora terá encontrado a saída pra debater a solução dessa crise”.
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